Imagine que extraordinário seria se a ciência não apenas desenvolvesse um aparelho capaz de devolver a visão às pessoas cegas, mas que este dispositivo fosse distribuído em massa, transformando a vida de milhões de pessoas?
A boa notícia é que estamos mais perto do que nunca deste feito!
Pesquisadores da Universidade de Monash e do Center for Eye Research, ambos na Austrália, desenvolveram uma retina artificial que resgata parcialmente a visão de pessoas com deficiência visual.
Até aqui, dezenas de cientistas têm buscado ciar olhos biônicos ou equivalentes, com variados graus de sucesso. O principal desafio para tornar isso possível é a quantidade de minúsculas terminações nervosas a serem simuladas (o nervo óptico humano contém milhões delas).
Um dos primeiros protótipos de olho artificial, por exemplo, obteve imagens de 100 pixels – ainda muito abaixo do que consideramos alta definição.
Levando a pesquisa da Center for Eye Research adiante, pesquisadores espanhóis da Universidade de Miguel Hernandez tentaram outra abordagem: contornar os olhos do paciente para se conectar diretamente ao córtex visual do cérebro.
Assim, as imagens são obtidas através de uma câmera colocada no óculos antes de ser convertida em sinais elétricos captados pelo cérebro. Uau!
Em outras palavras, o par de óculos com câmera central serve como retina artificial do usuário. Por fim, um implante é inserido diretamente no tecido cerebral.
Os cientistas, tanto da Universidade de Miguel Hernandez, quanto da Universidade de Monash, explicam que a câmera ainda não possui a potência necessária para transmitir uma imagem completa, mas sim variações de luz que permitem ao usuário distinguir formas e objetos.
A luz captada na parte frontal dos óculos é convertida em sinais elétricos que são transmitidos ao implante colocado no cérebro do usuário: uma matriz tridimensional de 96 microeletrodos.
Visão construída pixel a pixel
De acordo com Eduardo Fernandez, professor e diretor de neuroengenharia da Universidade de Miguel Hernandez, o implante tem 4 milímetros de largura e cada um dos minúsculos eletrodos tem 1,5 milímetros de comprimento.
Eles são inseridos no tecido cerebral para que possam estimular e monitorar a atividade elétrica dos neurônios no córtex visual, localizado no córtex cerebral maior.
Os estímulos elétricos permitem que a pessoa perceba os padrões de luz transmitidos pela retina artificial.
Em 2020, por exemplo, uma versão com 1.000 eletrodos foi testada com sucesso em primatas, embora os animais não fossem cegos.
Meses depois, uma versão aprimorada do software foi testada em uma mulher de 57 anos que era cega há mais de 16. Depois de uma fase inicial em que aprendeu a interpretar as imagens produzidas pelo dispositivo, ela conseguiu identificar as letras e contornos de certos objetos!
No vídeo abaixo, a paciente é capaz de distinguir, em uma tela virtual, os movimentos detectados pelo córtex visual:
Além disso, o implante não afetou negativamente as demais funções do córtex cerebral, nem estimulou neurônios coadjuvantes.
Para os pesquisadores, esses resultados só atestam a segurança e o potencial da retina artificial.
De toda forma, ainda há muito trabalho a ser feito antes que a tecnologia possa ser usada em um nível prático – e produzida em larga escala. Ainda assim, os cientistas estão otimistas.
É apenas uma questão de tempo até essa tecnologia ser aperfeiçoada para transformar a rotina de milhões de pessoas com deficiência visual parcial ou total.
Agora, os pesquisadores estão recrutando voluntários cegos para novos experimentos. Estes poderiam consistir em estimular um número maior de neurônios simultaneamente, a fim de produzir imagens mais complexas e detalhadas.
Saiba mais assistindo ao vídeo abaixo:
Assista como foi, na íntegra, o I Prêmio Razões Para Acreditar!
Fonte: Deficiente Ciente
Fotos: Center for Eye Research Australia