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Brasileiras na Austrália falam sobre retorno à vida normal

por Lud Hayashi

Depois de enfrentar com êxito a pandemia de covid-19, a Austrália está derrubando as medidas de restrição e a população já pode sentir o gostinho de uma vida próxima do normal de novo. Desde o começo de 2021, o país registrou apenas uma morte por conta do coronavírus e Sydney, a cidade mais populosa do país, teve uma infecção em maio.
Adotando uma das posturas mais rígidas no combate à pandemia, o governo australiano foi um dos primeiros no mundo a fechar as fronteiras para voos estrangeiros, decretar lockdowns para evitar a transmissão do novo coronavírus e obrigar o uso de máscaras de proteção em locais públicos. O país teve mais de 30 mil casos de covid e 910 mortes.

Com o vírus sob controle, o governo derrubou a obrigatoriedade do uso de máscaras em locais abertos e fechados na última segunda-feira (17), permitiu que grupos de pessoas voltassem a se encontrar e restaurantes, teatros e outros espaços podem voltar a funcionar atendendo o público normalmente.
“Por aqui as coisas já estão voltando ao normal”, conta a violinista brasileira Anna Murakawa, que vive na Austrália há 5 anos. “Há umas duas semanas, a gente teve um caso isolado de covid-19, aí tivemos que voltar com algumas restrições, como o uso de máscaras por uma semana, não podia ficar nos restaurantes. Mas agora essas medidas já acabaram.”
O país implementou um moderno sistema de rastreamento de casos, onde os cidadãos precisam escanear um QR Code, uma espécie de código de barra que pode ser lido pela câmera do celular, em todos os lugares que frequentam. Caso uma pessoa teste positivo para covid-19, as autoridades sanitárias conseguem saber exatamente por onde ela passou e com quem teve contato. Todas que frequentaram esses lugares precisam ser testadas e assim o governo garante a segurança geral da população.

Respeito às medidas de restrição

Com medidas rígidas e atualizações semanais de como estava a situação do país, o governo conseguiu a confiança da população que respeitou os lockdowns, o distanciamento social e outras medidas que entraram em vigor durante o ano de 2020.
“Foi um ano desafiador”, desabafa a empresária brasileira Fernanda Gazal. “A Austrália começou a agir de forma bastante rápida. Logo que os casos começaram a aparecer, a gente já entrou em lockdown, desde o começo nós já tivemos que ficar em casa”.
“As pessoas respeitaram muito e as multas eram muito rigorosas. Tinha multa de mais de mil dólares [cerca de R$ 4,1 mil] se você não respeitasse as regras”, conta Murakawa. “A cada semana, o governo ia fazendo anúncios públicos para falar como estavam os casos, como a gente poderia combater isso juntos.”
Com comércios e empresas fechadas, era de se esperar que a economia do país parasse e trabalhadores corressem o risco de ficar sem trabalho e sem ter como sustentar as famílias. A Austrália, assim como outros países do mundo, disponibilizou auxílios para os cidadãos.
“Os cidadãos australianos tiveram 700 dólares [cerca de R$ 2,8 mil] por semana como auxílio para quem perdeu o emprego. Eu, como imigrante, não recebi nada”, conta Murakawa.

Violonista Anna Murakawa se apresentou em teatro para 2 mil pessoas

Violonista Anna Murakawa se apresentou em teatro para 2 mil pessoas

De volta à vida normal

Com o fim das restrições, as duas brasileiras aproveitaram para voltar a fazer o que gostavam antes da pandemia, encontrar amigos e voltar a viajar. A Austrália está com diversos pacotes de incentivo para viagens locais, como uma forma de estimular a economia e o turismo nacional, já que turistas estrangeiros ainda estão banidos e australianos estão tomando cuidado antes de sair do país.
“Uma das primeiras coisas que eu fiz foi voltar a tocar”, diz Murakawa, que se apresentou em um teatro com a casa cheia e 2 mil espectadores. “Pude ir em um restaurante com as amigas e fui viajar, porque o governo fez um pacote de incentivo onde as passagens aéreas estavam saindo até pela metade do preço.”

A empresária Fernanda Gazal (c) voltou a encontrar as amigas

A empresária Fernanda Gazal (c) voltou a encontrar as amigas

“Eu voltei a me encontrar com as minhas amigas, a gente marcou de ir jantar”, conta Gazal, animada. “Tem esse desejo de voltar a vida normal, de voltar a viver, encontrar as pessoas. A gente está fazendo questão de celebrar aniversários, datas especiais. [A pandemia] fez a gente valorizar muito mais esses pequenos momentos com as pessoas que a gente ama”.
Apesar da liberdade e do retorno gradual à normalidade, as duas comentam que a população ainda está cautelosa e tomando cuidados para evitar que a situação saia do controle.
“O que acontece é que tem pequenas cautelas, muitas pessoas levam álcool em gel para todos os lugares que vão, a gente evita muitos abraços e ficar perto demais. Apesar de ter voltado ao normal, eu sinto que as pessoas estão mais cuidadosas com esses detalhes”, diz Gazal.

Vacinação lenta e desconfiança

Enquanto isso, a vacinação na Austrália acontece lentamente. O país foi afetado com o atraso nas entregas das doses da vacina de Oxford, que ficaram retidas na Europa, e agora começou a vacinar os mais velhos e funcionários da saúde.
“A previsão é que a população da minha faixa etária, 30 anos e que não tem envolvimento com a área da saúde, possa ser vacinada nos próximos 2 meses”, conta Murakawa.
Além da demora, a população também desconfia da vacina produzida pela AstraZeneca por conta dos raros efeitos colaterais, como aparecimento de trombos sanguíneos. Na sexta-feira (21), o governo australiano fez um apelo para que os cidadãos com mais de 50 anos se vacinem.

País só pretende reabrir fronteiras em 2022

País só pretende reabrir fronteiras em 2022

LOREN ELLIOTT/REUTERS – 6.5.2021

Reabertura das fronteiras

Um desejo agora é que a Austrália reabra as fronteiras e permita que os turistas voltem ao país e que a população estrangeira possa visitar a família. O governo só permite viagens à trabalho e outras exceções, e é necessário ter documentos que comprovem a necessidade de deixar o país.
“A Austrália é um país composto por muitos imigrantes, muitas pessoas estão ansiosas para que as fronteiras abram. Eu quero muito visitar o Brasil e tem muitas pessoas que querem visitar suas famílias”, desabafa Murakawa.
Por enquanto, o governo disse que a previsão é de que as fronteiras aéreas da ilha reabram em 2022. Enquanto isso, as brasileiras se mantêm otimistas e confiantes em um futuro melhor no país.
“A expectativa é voltar muito melhor, aprender a apreciar esses valores que vieram com a pandemia, como o valor de um abraço, respirar sem máscara”, conclui Murakawa.

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