O brasileiro André Menezes, de 34 anos, agora é mestre em Havard. Para conseguir estudar, ele vendia laranjas na feira na periferia de Guarulhos, na Grande São Paulo.
André se tornou mestre em Administração pela Universidade de Harvard, fala três idiomas e hoje é Program Manager da Nubank. Uma história de dedicação, foco e sucesso.
O sonho dele era se tornar um jogador profissional de futebol para sobreviver em meio a violência – que matou vários amigos de infância – e a falta de direitos básicos. Mas foi através da educação que André conseguiu sair das estatísticas cruéis dos jovens pretos no nosso país e crescer na vida.
“Ainda durante a minha infância e adolescência eu ouvia muito Racionais MC’s. As músicas dos Racionais refletiam muito a minha realidade. A realidade de um jovem preto de periferia tentando não ser mais uma vítima das cruéis estatísticas. O bairro dos Pimentas, na época em que eu morei lá, era um bairro muito perigoso. Muitos dos meus amigos e colegas que moravam perto ou foram presos, ou morreram”, disse ao Estudantes Ninja.
Sofreu racismo
André Menezes é filho de José Menezes e Edna Correia da Silva Menezes – já falecida -, donos de uma locadora de filmes.
Felizmente, eles conseguiram pagar uma escola particular para o filho e foi justamente lá que André sofreu vários episódios de racismo.
“Me lembro de sofrer muito preconceito na escola, por ser praticamente o único menino preto por lá. Ouvia piadas o tempo todo. E naquela época me faltava muita referência. Até sonhar era muito difícil por falta de referência. Eu sempre era o último a ser escolhido no jogo de futebol, sempre o último a ser escolhido nos bailes da escola, raramente tinha companhia para as festas na escola. Perdi as contas de quantas vazias fui parado pela polícia no meu bairro e a recomendação era, baixar a cabeça e nunca confrontar. “
Vendendo laranjas na feira
Com o avanço da internet, a locadora de filmes da família entrou em crise financeira e o André, ainda adolescente, teve que trabalhar na feira para manter seus estudos.
“Para poder manter minha escola e meu curso de inglês eu fui trabalhar na feira livre vendendo laranjas, isso aos 16 anos de idade. Eu levantava por volta de 04:30 da manhã para montar a barraca e vender laranja. Por volta das 15h eu voltava para casa, descansava um pouco e depois ia para escola. Aos sábados, após a feira eu ia para o curso de inglês. Por diversas vezes, tive que dormir no caminhão no meio das frutas na tentativa de descansar um pouco”, contou.
Perdeu a mãe
A mãe do André, principal porto seguro e conselheira dele, ela faleceu em 2009, vítima de um câncer, quando ele tinha 21 anos de idade.
Foi um momento muito difícil que o fez reunir forças para seguir com seu propósito, inclusive inspirado pela força da mãe, que mesmo com câncer iniciou um curso de pedagogia.
“Com a morte da minha mãe eu decidi que eu ia continuar seguindo os conselhos que ela sempre me deu, de estudar para mudar a minha realidade e da minha família. Depois de sua morte, eu decidi que iria seguir esse propósito de mudar a minha realidade e da minha família com muito afinco através dos estudos. A minha mãe ainda com câncer iniciou uma faculdade de pedagogia, eu me lembro que eu fiz um requerimento para poder solicitar que ela fizesse aulas online por conta da doença. Tudo isso me inspirou muito a me dedicar aos estudos e a minha carreira depois que ela faleceu”, disse.
Ante de ir para os Estados Unidos, André se formou aqui no Brasil.
“Eu fiz faculdade de Turismo na Universidade de Guarulhos e depois eu fiz uma transição de carreira para Tecnologia da Informação e então fiz um MBA na FIAP em Gestão de Tecnologia da Informação. Além disso, eu tenho diversas outras, dentre elas, em Gestão de Projetos pelo PMI e também sou Black Belt Lean Six Sigma, uma certificação de Gestão de Processos e eu falo 3 idiomas, português, inglês e espanhol.
Agora com o Mestrado em Libertal Arts focado em Administração, em Harvad, André fala da importância da representatividade, para ele e outros jovens pretos.
Barack Obama, uma referência
“Eu quando era jovem na feira não tinha referências pretas. Me lembro que quando eu ligava a televisão só via gente branca de sucesso, quando olhava pra cima, não conseguia me ver lá. Então, por isso eu tive muita dificuldade de me ver em uma posição melhor. Parecia haver um muro invisível só eu conseguia ver. Parecia que aquele lugar de sucesso não foi criado pra mim. Eu me lembro que a vitória do Barack Obama para presidente foi um grande marco pra mim. A vitória dele representou muito para mim em termos de representatividade”.
“Então, quando eu conto a minha trajetória para outros jovens negros, eu quero passar uma mensagem de que podemos sonhar, de que precisamos acreditar. Ao mesmo tempo, é muito importante planejar, sonhar só não é suficiente. A gente precisa sonhar, ter objetivos e ter planejamento”, concluiu.