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Depressão e redes sociais: prós e contras de falar abertamente sobre a doença

A internet ajudou a tirar da esfera privada a discussão sobre saúde mental e tem diminuído o estigma acerca do problema. Mas a dinâmica da web nem sempre favorece quem sofre

por Lud Hayashi

“Eu só estou aqui, de pé, porque desde que afundei meus amigos organizaram um rodízio pra ficar sempre gente na minha casa”, escreveu o youtuber Felipe Neto. “A depressão é uma doença da mente, como a gastrite é uma doença do estômago.”

O maior influencer do Brasil detalhou recentemente seus problemas com a saúde mental em uma série de aparições nas redes sociais. Desabafos públicos sobre o tema, que chegam a dezenas de milhões de pessoas, também já foram feitos por outros influenciadores, como o comediante Whindersson Nunes.

Antes restritas ao âmbito privado, conversas sobre depressão, ansiedade, bipolaridade, síndrome do pânico e outros transtornos têm se livrado da atmosfera de segredo e constrangimento do passado para ajudar a romper estigmas e estimular pessoas a buscar tratamento.

O psiquiatra afirma que esse atual momento “nem de longe significa que o estigma deixou de existir. Há o preconceito, que passa por um componente afetivo, emocional, e se expressa em posturas como ‘eu não me sinto bem ao estar perto de uma pessoa com esse problema’. E há o estereótipo: um aspecto racional, cognitivo, materializado em achar que se conhece exatamente o comportamento de alguém, por exemplo, com síndrome do pânico”.

O que as pesquisas dizem?

Alguns estudos já mostraram resultados benéficos quando personalidades de alcance na internet falam sobre saúde mental.

Uma pesquisa examinou os efeitos sobre homens negros nos Estados Unidos depois que o rapper Kid Cudi expôs seus problemas com depressão.

Depressão e outros problemas emocionais vêm sendo abordados de forma mais transparente nas rede sociais (Foto: Getty Images )
Depressão e outros problemas emocionais vêm sendo abordados de forma mais transparente nas rede sociais

A análise da repercussão no Twitter aponta que as revelações de Kid Cudi ajudaram a engajar no debate sobre saúde mental um perfil populacional muitas vezes sujeito a pressões do ideal de masculinidade – que historicamente trata a depressão com termos como “frescura”.

Já um trabalho de cientistas dos EUA e de Taiwan focou em microcelebridades (referências em nichos específicos, como games) que abordam seus problemas emocionais em lives no YouTube e na plataforma Twitch.

Falar do tema ajuda os seguidores a perceberem os riscos da depressão. Faz também, segundo o estudo, com que essas microcelebridades pareçam mais autênticas – embora surjam dúvidas entre o público sobre a credibilidade delas como porta-vozes do assunto.

Mas o pesquisador brasileiro Felipe Giuntini, da empresa Sidia, detectou algo diferente sobre os efeitos dessa conversa na internet.

Em seu trabalho de doutorado no Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP em São Carlos, ele formulou um sistema de inteligência artificial que analisou posts de 415 mil participantes da maior comunidade sobre depressão do site Reddit. O estudo contou com o suporte do departamento de psicologia da Universidade Federal de São Carlos (UFScar)

“Nós notamos que os usuários pioraram seus sentimentos no ambiente de suporte mútuo”, afirma Giuntini, que utilizou um período de 10 anos para avaliação das postagens.

“Os usuários que entraram com depressão leve saíram com depressão moderada. E os usuários que entraram com uma depressão moderada evoluíram para um quadro mais grave. Não notamos casos de melhora.”

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