Viver constantemente em uma montanha-russa de sentimentos – é desta forma instável que o transtorno de personalidade borderline é caracterizado. O termo, que na tradução do inglês significa algo como fronteiriço ou linha de fronteira, pode ser substituído por limítrofe, que, neste contexto, também partilha do mesmo significado: uma linha tênue entre o tudo e o nada.
Segundo o psiquiatra Rodrigo Martins Leite, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, o transtorno está relacionado aos chamados núcleos de impulsividade, de comportamento exagerado e de instabilidade nas relações, e costuma se manifestar entre o final da adolescência e o início da idade adulta.
Segundo o Manual MSD, também há uma tendência a atos autodestrutivos, o que faz com que o risco de suicídio entre pacientes com borderline seja 40 vezes maior em uma comparação com a população geral, sendo que entre 8% a 10% deles morrem por suicídio.
Diagnóstico
Apesar de o borderline apresentar características marcantes, o diagnóstico não é simples e pode ser confundido com outros transtornos, como o de bipolaridade, por exemplo. Para ser diagnosticado, o paciente é analisado por sua história clínica e de vida desde a infância.
Apesar de ter traços semelhantes, o transtorno de borderline se diferencia do de bipolaridade em aspectos de tempo, conforme destaca o especialista.
O de borderline é caracterizado por uma instabilidade crônica ao longo da vida, principalmente diante de frustrações, já o de bipolaridade tem fases bem marcadas de mania, hipomania e depressão.
“Essa hipersensibilidade à frustração é uma marca bem importante da personalidade borderline. Mas, na prática, não é tão simples diferenciar, até porque as duas condições podem aparecer juntas no mesmo indivíduo e às vezes é difícil caracterizar pelo exame psíquico se estamos diante de uma fase de um transtorno bipolar ou se é a oscilação de uma personalidade instável”, afirma o especialista.
Além disso, o paciente com borderline pode sofrer também com outros transtornos, como depressão e ansiedade, ou mesmo enfrentar problemas de dependência química.
Em alguns casos, a dificuldade de interação social pode ser tão intensa ao ponto de impactar, também, a relação médico e paciente, dificultando ainda mais a identificação do problema.
“Em geral, as pessoas passam por vários profissionais até chegarem a um diagnóstico. Outro problema é que, muitas vezes, o especialista acaba não verbalizando isso para o paciente, porque de uma certa forma é como dizer que a personalidade da pessoa é que tem um transtorno, e muitas vezes ela enxerga as atitudes dela como algo natural ou compreensível diante do que ela sofre, mas não tem a crítica de perceber que a forma como reage e se relaciona que é o problema”, ressalta o psiquiatra.
O tratamento para o transtorno de personalidade borderline é, essencialmente, farmacológico e não farmacológico, segundo o especialista. Os medicamentos são usados para controlar, em certa medida, a impulsividade ou para tratar os outros transtornos que podem estar associados ao paciente, como depressão e ansiedade.
Ainda assim, o psiquiatra destaca que a psicoterapia é a principal aliada da pessoa com borderline. Neste caso, o tratamento é de longo prazo e busca por uma autorreflexão do paciente.
“É uma psicoterapia difícil, porque a pessoa tem que compreender as consequências dos seus atos, entender o quanto do comportamento dela gera as dificuldades que ela tem, que, em geral, são percebidas só como [dificuldades] fora da pessoa. O cerne é uma psicoterapia robusta, com a medicação atuando de uma forma mais satélite”, afirma Leite.
Vale destacar que o diagnóstico do transtorno deve ser feito por um profissional de saúde especializado, assim como o tratamento.