Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), cresce o número de adultos que ainda moram na casa dos pais. O estudo mais recente aponta que uma em cada quatro pessoas de 25 a 34 anos não deixa a casa dos pais por uma série de motivos, incluindo finanças e comodidade. De acordo com os pesquisadores, a geração canguru tende não só a aumentar em porcentagem, como também a ampliar a faixa etária de quem permanece sob o teto dos pais.
O que se percebe é que a noção de juventude mudou, assim como a noção de autorresponsabilidade. Cada vez mais as pessoas se julgam “muito jovens” e se acham no direito de desfrutar do cuidado de seus progenitores, mesmo após os 30 anos de idade. Pesquisando sobre o assunto, me deparei com uma série de depoimentos que, só de ler, me causaram aquele sentimento popularizado como “vergonha alheia”.
“Casa dá um trabalho que vou evitar o máximo que puder! Ocupo metade do ‘apê’ porque preciso de espaço e os outros nem tanto. Não pago nada e ainda tenho comida na mesa todo dia, roupa lavada e uma ajuda para pagar a pós”, comemora o “adolescente” de 28 anos que jura não ter tempo para trabalhar porque os estudos são muito “puxados”.
“O custo de vida está muito absurdo e ainda não tenho condições de bancar meu próprio espaço”, diz o “jovem” de 34 anos que foi premiado com mais um cômodo na casa dos pais para ter privacidade ao receber a nova namorada nos fins de semana. Não que aos 34 anos alguém seja velho, mas não ter a percepção de ser maior de idade há 16 anos parece bastante infantil. E, para além de infantil, ainda tem a questão de justificar a comodidade culpando o custo de vida, como se, para os pais, tudo custasse menos.
A questão é que os passarinhos só aprendem a voar quando seus pais os empurram ninho abaixo e, sem alternativa, se veem obrigados a bater as asas se não quiserem se espatifar no chão. Mas os seres humanos parecem desaprender o óbvio e, mesmo com a melhor das intenções, muitos pais têm contribuído para a falta de autorresponsabilidade e dependência dos filhos. Enquanto para eles “é muito cedo” para trabalhar, se sustentar e cuidar da própria vida, para os pais não resta alternativa a não ser trabalhar mais e por mais tempo para custear a comodidade de quem se acha “jovem demais”.