A pandemia do novo coronavírus já dura mais de um ano e com um histórico grande de internações e mortes. No Brasil, após o surgimento da variante brasileira, que é mais contagiosa, e o começo da campanha de vacinação pelos idosos, caiu muito a idade dos pacientes hospitalizados. O que gerou, como consequência, internações mais longas.
Com isso, além do conhecimento maior das características do SARS-CoV-2 e dos efeitos à saúde mental dos internados, hospitais começaram um processo de flexibilização das visitas aos infectados.
No Rio de Janeiro, por exemplo, a Secretaria Municipal de Saúde autorizou pessoas imunizadas com duas doses da vacina contra a covid-19 a ver os familiares internados.
No caso de São Paulo, alguns hospitais começaram um processo de flexibilização. O Ministério da Saúde, em abril de 2020, orientou que nenhum paciente internado, com covid ou não, recebesse visitas, para diminuir as chances de infecção.
Para Paula Scorsi Queiróz, gerente de enfermagem do Hospital Moriah, os conhecimentos adquiridos nos meses de pandemia permitiram a criação de um protocolo de segurança que permita um pouco mais de conforto às famílias que já sofrem com problemas de saúde.
“Inicialmente, nenhum dos nossos pacientes recebiam visitas. Com o passar dos meses de pandemia, conseguimos compreender melhor como se dá a infecção do vírus, criamos um fluxo definido dentro do hospital e os pacientes covid e não-covid não se cruzam internamente. Com isso, fizemos algumas alterações”, explica Queiróz.
Desde 23 de abril, os pacientes internados em UTI (unidade de terapia intensiva) podem receber visitas. A pessoa chega por uma porta separada do hospital, é acompanhada por um segurança e espera em uma sala o horário para ver o doente. Antes de entrar na UTI, o familiar coloca máscara, luvas, toucas e aventais e fica cerca de 30 minutos em contato com o paciente.
“Não ver o doente deixava o familiar muito ansioso e, na minha percepção, as visitas foram muito positivas. A família fica mais segura e os pacientes têm uma recuperação mais rápida”, diz Paula. E acrescenta: “Explicamos aos doentes e aos familiares como eles podem aproveitar o momento com a família. Pode tocar na mão, mesmo com as luvas, conversar, ouvir uma música… Na verdade, a ideia é que eles tenham afeto”, ressalta.
O Hospital Alemão Oswaldo Cruz também flexibilizou, com foco nas questões emocionais e nos benefícios trazidos ao internado. Lá, os pacientes em UTI recebem uma visita de 15 minutos por dia. No momento da admissão da pessoa, a família é orientada a restringir o máximo possível as visitas, mas elas não estão proibidas. Os casos e as necessidades são analisados separadamente.
“É crescente na literatura os impactos em saúde mental de pacientes internados por covid, como distúrbios de ansiedade e estresse pós-traumático. Desta forma, a motivação de proporcionar visitas aos pacientes da tem como objetivo reduzir os danos e sofrimento decorrentes do isolamento prolongado aos pacientes e familiares”, afirma Ícaro Boszczowski, gerente médico e coordenador do Serviço de Controle de Infecção e Epidemiologia Hospitalar do Oswaldo Cruz.
O Hospital Sírio-Libanês também autoriza uma visita por dia aos pacientes internados em UTI e os pacientes no quarto têm direito a um acompanhante, que pode ser trocado de 12 em 12 horas.
Alguns hospitais optaram por não fixarem regras para autorização ou não de visitas. Os pacientes têm os riscos analisados individualmente, de acordo com a gravidade e o estágio da doença, os riscos e os benefícios que o encontro com um familiar traz.
É o caso do Hospital Israelita Albert Einstein. “A autorização de visitas a pacientes internados com o quadro de covid-19 não é uma rotina. Somente é concedida após a equipe multidisciplinar que acompanha o paciente fazer uma avaliação rigorosa, que considera riscos e benefícios, e envolve, ainda, o cenário geral de evolução da doença”, informou a assessoria de imprensa.
O mesmo acontece nos hospitais da rede Prevent Senior, que atende preferencialmente idosos. Cada caso é avaliado individualmente. Aqueles que os médicos entendem que pode haver visitas com segurança, os horários são agendados com as famílias, observando-se todas as medidas de higiene e distanciamento.
A Secretaria Municipal de Saúde segue as orientações dos Ministério da Saúde e não permite nenhuma visita. Somente crianças e pacientes com algum grau de deficiência podem ter acompanhantes, dependendo do estágio da doença.
A única exceção acontece no Hospital Municipal de M’Boi Mirim. Lá, existe um protocolo para pacientes paliativos e está incluída a visita da despedida, que pode ocorrer de forma online ou presencial, mesmo sendo para pacientes com covid-19. Nesses casos, os familiares são alertados dos riscos de contaminação e são oferecidos todos os EPIs e é necessário manter distância segura do paciente. Familiares idosos ou com comorbidades são evitados.
O Hospital Santa Catarina também adota medidas especiais no caso de pacientes terminais. “Em caráter de exceção, pacientes em estado de terminalidade podem receber até duas visitas por dia, mediante agendamento prévio com a equipe assistencial”, informa a assessoria de imprensa.
A covid atinge pessoas de todas as idades inclusive as crianças, que não podem ficar internadas sozinhas. Nesse caso, pacientes com menos de 14 anos devem ficar sempre com acompanhantes.
O infectologista e gerente médico do Hospital Infantil Sabará, Francisco Ivanildo Oliveira lembra que, no caso de crianças, a decisão não é de uma única pessoa, então a atenção tem de ser diferente.
“Tem sido mais difícil porque os pais querem estar juntos, já que as decisões são compartilhadas no caso de crianças. No começo chegamos a pensar em fazer que acompanhante internasse juntos com a crianças. Mas optamos por duas pessoas fixas durante o dia e uma à noite”, conta o médico.
As duas pessoas são fixas e identificadas, que podem ser trocadas com aviso prévio. Porém a substituição deve ser de pelo menos sete dias. O hospital pede que se evitem acompanhantes com comorbidades, mas às vezes o acompanhante disponível é um avô e um avó. Eles são aceitos, mas é orientado sobre o risco maior.
Os limites para os pacientes infantis sem covid também aumentaram muito. No hospital era livre o número de visitantes. Agora, só pode uma visita por dia e todos devem estar identificados pelos pais ou responsáveis pela criança.
Hospitais estaduais e federais, que atendem pacientes pelo SUS (Sistema Único de Saúde) seguem sem autorizações de visitas ou acompanhantes.
Entre os hospitais particulares da capital que seguem sem flexibilização estão os da Rede D’Or, o HCor e a BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo.
O Hospital Samaritano optou por não responder ao questionamento do R7.