Sobrecarga de tarefas profissionais e pessoais, tempo cada vez mais curto, necessidade de aprender cada vez mais rápido, pouco descanso, quantidade de sono insuficiente. Ademais do estresse e da ansiedade que tudo isso pode trazer, estamos convivendo há mais de um ano com um vírus sobre o qual ainda se sabe pouco e que alterou a nossa forma de trabalhar, nossas relações sociais, desfalcou o bolso da maioria e, de quebra, ampliou as incertezas sobre que tipo de futuro nos espera.
Todos estamos sujeitos aos efeitos negativos que esse estilo de vida causa, mas as mulheres parecem ser abarcadas de uma forma um tanto mais contundente. Para além dos fatores que atingem a todos, a mulher tem sido bombardeada por cobranças e expectativas totalmente impossíveis de serem alcançadas. Ela precisa, por exemplo, trabalhar fora como se não tivesse filhos e, ao mesmo tempo, ser mãe como se não trabalhasse fora.
O trato com a aparência feminina foi, ao longo dos anos, deixando de ser uma questão de asseio e autocuidado para tornar-se uma espécie de batalha perdida. Isso porque todos os efeitos naturais aos quais qualquer ser humano está exposto não são permitidos às mulheres. Elas não podem ter cabelos brancos, marcas de expressão e muito menos rugas. A mulher teve o direito de envelhecer vetado pela sociedade, mas a natureza ignora essas imposições e segue seu curso. E essa guerra contra a própria biologia vem resumindo a vida de grande parte delas a uma única palavra: insatisfação.
Em seu livro O Cérebro Ansioso, o neurologista Leandro Teles descreve a ansiedade como “um conjunto de emoções e reações corporais que antecedem o novo, o desafio ou uma experiência de alguma forma arriscada ou estressante. Trata-se de um pacote cerebral que precisa de estímulos específicos para aparecer e gera uma resposta física imediata.” Esses estímulos, explica Teles, podem ser positivos ou negativos, gerando o famoso “frio na barriga” diante da expectativa de algo bom, ou a ansiedade – pela antecipação do estresse –, diante de algo ruim.
Para muitas, a ansiedade começa logo pela manhã, pois, enquanto o homem se limita a se pentear, fazer a barba e colocar uma roupa adequada aos afazeres do dia, a mulher “precisa” se atentar a uma série de coisas que vão muito além do necessário. Afinal, a publicidade repete todos os dias que as coisas mudaram, que tudo o que ela tem em seu armário abarrotado acaba de sair de moda e, mais uma vez, ela não tem “nada” para vestir.
As cobranças externas se transformam em autocobrança e os padrões cada vez mais inatingíveis desencadeiam emoções e reações que parecem nunca ser suficientes. Estar 24 horas por dia operando em “modo expectativa” tem feito muita gente negligenciar o presente, a saúde, a família, funcionando como um gatilho que deixa as emoções à flor da pele, neutralizando o raciocínio e fomentando uma crise interior quem nem mesmo que a possui consegue explicar seus motivos.
É hora de respirar fundo, ser seletiva com o tipo de informação que acessa e confia, racionalizar as escolhas e realinhar as expectativas. É tempo de viver o presente com menos cobranças, mais aceitação e dando menos valor ao que os outros pensam. “A vida é uma só” pode ser uma frase bem clichê, mas é a única verdade que podemos garantir. Portanto, o mais inteligente é não gastar algo tão precioso e único correndo nessa roda dos ratos que não nos levará a lugar algum.