No momento em que o Brasil ultrapassa a marca de 1 milhão de casos confirmados de coronavírus, profissionais da área da saúde preveem que falar em uma “volta à normalidade” está fora de cogitação enquanto não houver vacina para a covid-19. Isso porque, além do marco de infectados, também devem ser levados em conta fatores como o avanço da doença em diferentes regiões do país, variação de comportamento social, gestão de saúde pública e subnotificação dos casos.
“Do ponto de vista da epidemiologia, é complicado falar sobre todo o território nacional”, explica Aline Dayrell, pesquisadora do observatório de saúde urbana de Belo Horizonte e professora epidemiologista da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). “Existe uma discrepância entre regiões, como o Norte, que é uma das mais afetadas. No entanto, existem pesquisas de âmbito nacional que expõe uma subestimação no número de casos oficiais.”
Em abril deste ano, o relatório publicado pelo ex-ministro da Saúde Henrique Mandetta previa o pico de casos de covid-19 até meados de setembro. Segundo a epidemiologista, dada a característica do patógeno Sars-Cov-2 de acometer o maior fluxo de pessoas durante o inverno, “seria prudente a liberação de um maior fluxo de pessoas após essa época. Mas cada local deve trabalhar com perfis diferenciados”.
Embora Belo Horizonte seja a capital com melhores índices de controle observados, a pesquisadora alerta para o aumento de casos no interior de Minas Gerais.
“Já existem especulações de escolas querendo voltar às aulas, mas é pouco provável, pois temos que garantir o distanciamento das pessoas. No supermercado, é possível, mas não em ambientes com aglomerações. Claro que podemos fazer rodízios, mas isso representa uma volta à rotina, não à normalidade.”
Segundo aponta a epidemiologista, a saída para cessar a epidemia em território nacional seria implantar modelos de controle de países com melhor desempenho no combate ao coronavírus: “Quando estudamos a pandemia, observamos que os países que iniciaram o isolamento precocemente conseguiram lidar melhor com a progressão dos casos. Podemos adotar o mesmo raciocínio com as ondas epidêmicas: temos que entender que uma segunda onda virá e, antes que ela venha com força, precisamos reestruturar as ações locais.”
Para trabalhar a prevenção dos casos, o médico Rubens Covello, CEO da Health Services Accreditation, defende o foco na gestão de saúde primária como “a grande virada” para combater internações e o colapso do sistema de saúde.
“Precisamos trabalhar prevenção no lugar de patologia. A assistência médica e as instituições de saúde vão ter que colocar o paciente nos centro das decisões e padronizar cuidados. É importante trazer a família, cuidadores e comunidades na discussão do diagnóstico para combater a disseminação do vírus mais rápido.”
Segundo aponta Covello, não é apenas o sistema de saúde público que necessitará de uma padronização nas unidades básicas de saúde, hospitais e medicina suplementar. “Os grande planos também terão que fazer isso de maneira muito segura para diminuir o número de pacientes dentro de um sistema como um todo”. Ele cita como exemplo a adoção da telemedicina como recurso para combater a pandemia.
“Se não padronizarmos o atendimento, ele acabará precarizado. Lá fora, a medicina digital é tendência há algum tempo e contribui muito com a prevenção. No entanto, as infromações devem estar seguras, eticamente trabalhadas e sigilosas.”