O Reino Unido se tornou o primeiro país do mundo a aprovar a vacina contra a covid-19 desenvolvida pelas empresas Pfizer e BioNTech na última quarta-feira (2). No mesmo dia, a OMS (Organização Mundial da Saúde) informou que analisa dados para uma “possível listagem de uso emergencial”, o que serve de referência para países autorizarem o uso nacional.
Nesta terça-feira (8), a nação europeia começa a aplicar o imunizante em grupos prioritários. Esses avanços alimentam as esperanças de que o mundo esteja vislumbrando o fim da pandemia causada pelo coronavírus, que apareceu na China há quase um ano. Entretanto, essa perspectiva é uma ilusão, de acordo com especialistas.
“A vacina é uma grande esperança. Mas, por mais eficaz que seja, não vai interferir no curso da pandemia no curto prazo. Isso só deve acontecer a partir do segundo semestre do ano que vem”, afirmou Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan, na sexta-feira (4) durante um debate promovido pelo Lide (Grupo de Líderes Empresariais) Ceará com o tema “Perspectivas para o enfrentamento da covid-19 em 2021”.
Ele explicou que diante de um cenário pandêmico como o que se vive atualmente, os imunizantes adquirem outra função: diminuir a quantidade de casos graves de uma doença. É exatamente essa capacidade que os testes de fase 3, a última antes da aprovação por órgãos reguladores, permitem analisar.
“Em situações normais, o objetivo é impedir que o vírus de retornar [para a comunidade]. Mas na pandemia, temos que ter uma vacina que seja capaz de reduzir a gravidade e, consequentemente, a mortalidade da doença”, comparou.”O objetivo não é alcançar imunidade de rebanho vacinando 85% da população”, acrescentou.
A pediatra Isabella Ballalai, vice-presidente da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), concorda com Covas.
“Vacina não significa o começo do fim da pandemia. Essa é uma expectativa, mas não se trata disso. A vacina é sim fantástica. Temos que comemorar porque vamos evitar casos graves e moderados e, assim, haverá a diminuição de mortes. Mas não vamos acabar com a covid”, pondera.
A especialista destaca que ainda existem muitas perguntas sem respostas sobre a dimensão da proteção conferida pelos imunizantes sobre os quais já se conhece os resultados da fase 3.
“Não temos dados para saber se a pessoa [vacinada] vai deixar de transmitir a doença nem garantia de que não irá pegar o vírus. O que se sabe é que ela não vai adoecer”, enfatiza. “Depois de licenciadas [as vacinas], será preciso acompanhar os voluntários para ver quanto tempo a imunidade dura e se ela impede a infecção”, lembra.