Ao chegar ao supermercado nesta terça-feira (11), a brasileira Karen Ribeiro, que mora na Carolina do Norte, nos Estados Unidos, sequer encontrou leite nas prateleiras. Karen tem 25 anos e vive há oito meses em Chapel Hill — uma das cidades que devem ser alcançadas pelo furacão Florence na próxima quinta-feira (13).
“As pessoas surtaram. Quem não fez um estoque gigantesco de comida para os próximos dias está indo para as montanhas. Já não vendem nem água nas farmácias. Acabou tudo”, diz
A expectativa é de que Florence seja uma das tempestades mais intensas a alcançar a costa sudeste dos EUA em décadas. Os estados mais afetados devem ser Carolina do Norte, Carolina do Sul — onde um milhão de pessoas receberam ordens de evacuação — e Virgínia.
Até esta terça-feira, a tempestade se movimentava junto de ventos de 220 km/h. O fenômeno — atualmente classificado na categoria 4 em uma escala que vai até 5 — deve ganhar ainda mais força antes de tocar o solo, segundo o Centro Nacional de Furacões.
Karen é intercambista e estuda psicologia na Universidade da Carolina do Norte, mas teve as aulas suspensas até a próxima semana por conta do furacão. Ela pretendia viajar para a cidade costeira de Wilmington no fim de semana. Foi obrigada, porém, a mudar de planos: a partir de quinta-feira, vai se abrigar no porão da casa da família com quem mora.
“Fizemos uma reserva enorme de alimentos. Só não consegui comprar frutas e outros itens perecíveis”, comenta.
População leva fenômeno a sério
O paulista Eduardo Pontes, de 40 anos, vive situação parecida. Morando desde maio em Hillsborough, também na Carolina do Norte, se viu obrigado a encher a despensa com comida enlatada desde que a população local começou a manifestar sua preocupação em relação ao Florence, na última semana.
Pontes mora nos Estados Unidos há quatro anos e revela que se surpreendeu com a apreensão da população local frente à chegada do furacão.
“A gente não presencia esse tipo de catástrofe no Brasil. Talvez, pela minha inocência de brasileiro, eu não esteja tão preocupado”, diz Pontes. “Eu cresci no mato, no interior de São Paulo, e já vi muita tempestade forte. Mas as pessoas aqui estão levando este fenômeno muito a sério.”
O brasileiro trabalha em uma rede de supermercados e diz que as gôndolas em algumas das lojas já estão praticamente vazias. As pessoas formam filas para levar para casa o pouco que encontram.
“Quem me alertou sobre a gravidade da situação foi meu chefe. Ele alugou um quarto em um hotel para a família toda porque mora em uma região cheia de árvores e ele tem medo que alguma delas caia sobre a própria casa. Eu mesmo vou para uma zona montanhosa a 1h30 daqui — os furacões tendem a perder força em áreas mais altas”, reforça.
Furacões recorrentes
“Uma coisa legal que aconteceu aqui nos Estados Unidos quando houve esses outros furacões é que as lojas baixam os preços dos produtos para facilitar o acesso da população. O próprio supermercado onde trabalho fez uma doação para algumas entidades. Eu acho interessante: as organizações aqui não têm essa mentalidade de tirar proveito da situação e subir os valores — a intenção é sempre ajudar”, diz Pontes.
Os EUA foram atingidos por uma série de poderosos furacões no ano passado. O Maria matou cerca de 3 mil pessoas em Porto Rico. O Harvey fez 68 vítimas e causou danos estimados em 1,25 bilhão de dólares (aproximadamente R$ 5,2 bi) com enchentes em Houston.