Durante muitas décadas, um mesmo padrão de beleza reforçado em todas as mídias acabou por levar diversas gerações a uma constante insatisfação com a própria imagem. No entanto, isso tem sido redefinido através do movimento P-Beauty, popularmente chamado de beleza peculiar, alternativa ou simplesmente beleza real.
Rugas, estrias, cicatrizes e outros detalhes “desarmonizados” em relação ao que se tem como belo são cada vez mais valorizados. Um exemplo disso é a escolhida como musa da marca italiana Gucci, a modelo Armie Harutyunya, com características peculiares como nariz comprido, lábios finos, olheiras, sobrancelhas grossas e orelhas proeminentes.
“Há cerca de uma década, ter um nariz mais largo, com saliência pronunciada e uma ponta mais grossa era visto como um ‘problema’ cuja ‘solução’ apontava para dois caminhos: a auto aceitação ou a mudança radical através de uma cirurgia plástica”, diz o cirurgião plástico Mário Farinazzo, cirurgião plástico membro Titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) e Chefe do Setor de Rinologia da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP).
“Tudo isso porque existia um padrão: o nariz pós-cirúrgico era fino e arrebitado. Mas agora realmente isso ficou no passado. Os médicos cirurgiões-plásticos, hoje, estão abordando as rinoplastias de modo mais artístico e individualizado, usando novas técnicas cirúrgicas e não cirúrgicas para refinar em vez de renovar uma das características mais proeminentes do rosto”, explica ele.
Parece que as supermodelos da década de 90 se tornam cada vez mais um mero reflexo do passado, e o que denota isso é o surgimento de agências de modelos na Polônia, Alemanha e Inglaterra especializadas em recrutar pessoas de características físicas e nuances estéticas da chamada “beleza alternativa” (alt-beauty), que incluem pessoas acima do peso, visual geek (nerds fãs de eletrônicos e quadrinhos) ou com características excêntricas de pessoas comuns que se sentem confortáveis na sua própria pele.
Outra prova disso é a modelo grega Sophia Hadjipanteli, que já foi o rosto de marcas como Guess Jeans e Polaroid. Ela criou o movimento #unibrow para que outras mulheres, assim como ela, se sintam livres para abandonar a pinça e deixar os pelos das sobrancelhas crescerem do jeito que são.
O rosto do movimento em prol do abandono das pinças, o #unibrow
REPRODUÇÃO/INSTAGRAM/SOPHIAHADJIPANTELI
“Há uma banalização dos procedimentos estéticos hoje em dia. As pessoas são frequentemente bombardeadas nas redes sociais por profissionais de saúde e influenciadores divulgando procedimentos que vendem uma ideia de rejuvenescimento e beleza. Nesse cenário, existe a falsa impressão que todos devem fazer alguma coisa para melhorar”, afirma Daniel Cassiano, dermatologista membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia e da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica.
“O maior cuidado antes de fazer uma harmonização facial deve ser a razão pela qual está se submetendo a um procedimento. O que realmente te incomoda? Não faça procedimentos apenas porque a blogueira postou na semana passada”, aconselha Daniel.
A rinoplastia também continua sendo o procedimento estético mais comum em pacientes com 18 anos ou menos. No caso dos procedimentos faciais rejuvenescedores, aqueles contra as rugas e flacidez, o movimento P-Beauty abraça a ideia do Pro-Aging, de incentivar um rosto mais natural contra os excessos de “anti-idade”, evitando exageros que artificializam o rosto.
“A técnica cirúrgica não é mais a mesma: agora preferimos reposicionar os músculos e estruturas profundas em vez de apenas esticar a pele, o que gera resultados mais naturais e duradouros. É possível intervir em regime de hospital-dia (saída na mesma noite) ou mesmo sob anestesia local”, afirma Paolo, cirurgião plástico, membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, da Sociedade Americana de Cirurgia Plástica (ASPS) e da International Society of Aesthetic Plastic Surgery (ISAPS).