A alta nos preços da gasolina e da conta de energia elétrica tornaram deixaram a inflação pesada também para os mais ricos.
“Se no ano passado a inflação afetava só os menos favorecidos, em 2021 ela está atingindo todo mundo. Podemos até dizer que ela está mais democrática este ano”, diz o economista André Braz, coordenador do IPC (Índice de Preços ao Consumidor) do FGV-IBRE (Instituto Brasileiro de Economia).
Braz diz que em 2021 o que tem chamado mais a atenção são os energético. A crise hídrica encareceu a energia elétrica por causa das bandeiras tarifárias que hoje está operando na vermelha 2, que é o patamar máximo, que resultou num reajuste de 52% em julho.
“Isso tem pesado bastante no orçamento familiar.”
Outro item que não para de subir o preço é a gasolina. Braz lembra que tanto a energia elétrica quanto a gasolina afetam diretamente as famílias de alta renda.
“A energia é até mais democrática porque encontramos na maior parte dos lares, já a gasolina é mais quem tem carro. Se por um lado a gasolina pressiona os custos dos mais ricos, o preço do gás GLP (botijão) pesa para o pobre”, pontua.
Esse espalhamento da inflação, segundo o economista, vem fazendo a população perceber o quanto os custos estão pressionando cada vez mais o orçamento familiar.
Hoje, pelo índice oficial, o IPCA do IBGE, a inflação acumulada nos últimos 12 meses está em 8,99%. E a expectativa é de que ela ultrapasse os 9% entre agosto e setembro.
A crise hídrica, pontua Braz, não vem encarecendo apenas as contas de luz. Ela frustou várias safras.
“Vimos a quebra da safra de milho, que também afeta a criação do frango, a do açúcar que afeta a produção do açúcar refinado e o etanol, o café… você vai ao supermercado e encontra a carne cara por conta das rações que sofreram elevações. Então, não faltam vilões para a inflação.”
O professor Claudio Felisoni de Angelo, presidente do Ibevar (Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo), concorda com Braz que a “inflação está mais democrática” e que vem gerando um aumento generalizado nos produtos e serviços.
“Cada família tem a sua cesta de consumo de produtos e serviços. A minha é diferente da sua e por aí vai. Na medida que os preços da energia elétrica e do combustível sobem, o aumento será distribuído para mais classes sociais”, afirma Angelo.
Dados do IPCA-15 de agosto, considerado uma prévia da inflação oficial do mês, divulgado na quarta-feira (25), mostram que a alta acumulada em 12 meses já chega a 9,30%. No mês, o índice avançou 0,89%, a maior alta para o mês desde 2002, quando subiu 1%.
Por outro lado, permanecem em queda os preços da cebola (-15,94%), da batata-inglesa (-14,77%), das frutas (-1,33%) e do arroz (-1,14%).