Depois de um novo surto de covid-19 no começo do ano, Portugal começa a relaxar as medidas de restrição vigentes, permitindo que os cidadãos retomem aos poucos a vida e aproveitem um pouco da liberdade.
Com um relaxamento nas medidas durante as festas de fim de ano em 2020, o governo português foi surpreendido com um aumento no número de casos e mortes por covid-19 em janeiro deste ano, chegando aos piores números na União Europeia. Para impedir que a pandemia voltasse com força no país de 10 milhões de habitantes, o lockdown foi retomado e as pessoas tiveram que ficar em casa por meses.
Em maio, a situação voltou ao normal e o governo passou a permitir que algumas regiões aliviassem as medidas para conter o vírus, mas o uso de máscaras e o distanciamento social ainda são obrigatórios. Os restaurantes voltaram a funcionar com metade da capacidade e com horário para fechar.
“Eu não consigo lembrar da última vez que eu vi alguém sem máscara na rua que não fosse na mesa de um restaurante ou um bar”, conta Daniel Rodrigues, brasileiro que se mudou para o país em meados de 2019. “Claro que há casos isolados de comemoração de final de campeonato de futebol, em que um grupo de pessoas vai às ruas e causa aglomerações, mas isso são exceções. Eu sinto que até quem não concorda com o lockdown respeita, porque é a lei.”
Entre as medidas de restrição, não era permitido moradores de um município passearem em outro. “Quem saísse tinha que pagar uma multa de 200 euros [cerca de R$ 1,2 mil]”, conta Núria Casadevall, brasileira que vive na região do Porto desde 2019.
Turistas ingleses estão viajando para litoral português
PEDRO NUNES/REUTERS – 3.6.2021
Com a melhora da situação do país e as fronteiras abertas na União Europeia e Europa, alguns turistas já voltaram a visitar Portugal, entre eles, os ingleses. O Reino Unido deixou de fazer parte do bloco, então segue regras diferentes para viajar pelo continente.
“Vendo o jornal, as primeiras pessoas que desconfinaram nem foram os portugueses, mas os ingleses”, brinca Núria. “Os ingleses estão indo para Algarve [região litorânea no sul do país], a maioria já está vacinado.”
Os britânicos que decidirem viajar para o país precisam apresentar testes negativos de covid-19 antes do embarque e não precisam fazer quarentena assim que voltam ao país de origem.
Final de campeonato europeu gerou aglomerações em Portugal
VIOLETA SANTOS MOURA/REUTERS – 28.5.2021
Em 2020, a Europa foi fortemente atingida pela pandemia e diversos países registraram números alarmantes de casos e mortes. Enquanto no fim do primeiro semestre os governos tomaram medidas mais restritivas, a segunda onda no segundo semestre preocupou o continente novamente.
Portugal está fora do ranking de 10 países europeus mais atingidos pela doença, com 851 mil casos confirmados e 17 mil mortes, segundo dados da Universidade Johns Hopkins. A França lidera essa lista, com mais de 5,7 milhões de casos, seguida pela Rússia, com 5 milhões de infecções e Itália, com 4,2 milhões. A Espanha, vizinha de Portugal, contabiliza mais de 3,6 milhões de casos.
Com lockdowns duros e medidas mais restritivas que nos países vizinhos, Portugal conseguiu barrar a entrada do vírus pelas fronteiras terrestres e aéreas e controlou o número de infecções por boa parte do ano.
“Os primeiros meses [de pandemia] foram bem surreais. A gente ficou trancado em casa por mais de dois meses, não se via ninguém na rua, não se ouvia barulho de carro, a gente saia de casa para ir ao mercado e voltava”, recorda Daniel. “Depois as coisas começaram a ficar mais tranquilas, a gente podia sair para fazer ‘passeios higiênicos’, que são passeios para você relaxar. A gente ia até a praia e voltava.”
No verão europeu, entre junho e agosto, o confinamento foi aliviado e os portugueses puderam sair mais, porém com máscaras e respeitando o distanciamento social. A Europa reabriu as fronteiras para tentar reacender a economia e viagens eram permitidas.
No final de 2020, com as festas de fim de ano se aproximando, o governo português permitiu que famílias e amigos pudessem se reencontrar, o que gerou um novo surto, que rendeu um novo lockdown em 2021.
“Para mim, a quarentena deste ano foi mais difícil. Trancaram todo mundo em casa no dia 15 de janeiro e só começamos a ter um relaxamento das restrições no final de abril”, desabafa Núria. “A gente achava que 2021 seria melhor. Eu tenho a sensação de que 2020 não existiu.”
“Foi uma lição. A gente percebeu que não dá para relaxar. Ter um número pequeno de casos não significa que a situação está resolvida. Ela está controlada durante um tempo, mas se a gente relaxar, ela volta rapidinho ao que era”, diz Daniel.
Bares e restaurantes voltaram a receber clientes
PEDRO NUNES/REUTERS – 3.6.2021
Apesar das medidas ainda vigentes, os brasileiros concordam que a situação está melhor do que antes e que os portugueses seguem respeitando as orientações das autoridades de saúde.
“A população está se comportando muito bem em relação às medidas. Portugal tem dado um exemplo muito bom. Nem sempre eu concordo com as medidas do governo, eu acho que muitas vezes as medidas foram brandas demais e por isso nós tivemos alguns picos, mas tudo o que é imposto e aconselhado os portugueses seguem à risca e respeitam”, diz Daniel.
Para Núria, é possível ver que alguns portugueses estão relaxando um pouco nos cuidados. “Quando você faz esportes ao ar livre e pode ficar sem máscara, já consegue ver que as pessoas estão abrindo a guarda”, conta. “O que salva, fora a vacina, é o distanciamento social e a máscara.”
Pelo menos 19% da população em Portugal já recebeu as duas doses da vacina, o equivalente a 2 milhões de cidadãos e estrangeiros que moram por lá. Núria já recebeu a primeira dose da vacina e aguarda para ter a imunização completa.
O país está aplicando vacinas da Pfizer, Moderna e Johnson, que é dose única. “A situação da Astrazeneca está confusa aqui na Europa. Quem tomou a primeira dose da vacina de Oxford agora vai receber a segunda da Pfizer ou Moderna”, conta Núria.
A Astrazeneca, farmacêutica responsável pela produção das vacinas de Oxford, se tornou impopular no continente por conta dos atrasos nas entregas da vacina. A União Europeia está processando a empresa, alegando quebra de contrato e exigindo a entrega das milhões de vacinas faltantes.
Além disso, os casos de trombose raros entre algumas pessoas que receberam a vacina deixaram parte da população preocupada. A OMS e a Agência de Medicamentos Europeia analisaram novamente os dados da vacina de Oxford e confirmaram que há uma ligação entre o imunizante e os trombos sanguíneos, mas reiteraram que a vacina é segura.
Várias países retomaram o uso da vacina, mas Áustria e Dinamarca suspenderam a distribuição.