“Não levo meu filho ao supermercado, pois ele faz um escândalo para ter o que quer. Acabo cedendo para não passar vergonha, mas ele quer tudo o que vê pela frente e a conta fica alta. Decidimos que é melhor que ele fique em casa”, confessa a mãe de um menino de quatro anos.
“Às vezes me sinto culpado quando deixamos nossa filha em casa para jantar fora, mas é impossível comer em paz com criança. Ela só come no tapete ou no sofá, não aceita ficar na mesa de jeito nenhum. Sem chance, melhor ficar com a avó!”, afirma o pai de uma menina de seis anos.
“Meus filhos no shopping? Brincadeira, né? Eles correm, gritam, entram em tudo que é loja e a gente não consegue fazer nada a não ser correr atrás deles. É uma maratona absurda. Enquanto eles não aprenderem a ‘ter modos’ vão ficar em casa”, diz a mãe, enquanto a tia balança a cabeça concordando com cada palavra. Os meninos têm oito e dez anos.
Os exemplos são tantos que esse tipo de fala já se tornou comum, afinal, pais querem fazer suas tarefas ou desfrutar de um pouco de lazer no pouco tempo livre que têm, enquanto as demais pessoas – que não têm filhos – não querem ter de aguentar o incômodo causado pelos filhos dos outros. Porém, esse tipo de situação não deveria ser assim.
Quanto menos interação com as pessoas, mais as crianças não saberão o que fazer diante delas e quanto menos frequentarem supermercados, shoppings, restaurantes ou quaisquer outros locais públicos, menos entenderão como devem se comportar fora de casa. Manter as crianças em lockdown por tempo indeterminado ou até que “aprendam sozinhas” não vai resolver problemas de comportamento. Elas não vão acordar em um belo dia de sol sabendo exatamente o que fazer sem que sejam ensinadas, treinadas e disciplinadas.
Crianças aprendem por observação, repetindo as palavras que ouvem e reproduzindo as ações que veem no dia a dia, quer seja de pessoas que interajam com elas pessoalmente ou por meio do que assistem na tevê ou na internet, mas principalmente por meio da rotina que levam. Se no dia a dia as refeições são servidas no tapete da sala e elas podem rolar no chão enquanto comem, como esperar que se comportem à mesa? Se pais ou responsáveis não tiverem disposição para ensinar a criança a diferenciar os locais e os momentos em que podem correr e gritar dos que não podem, como chegarão a essa conclusão?
Quem deixa os filhos em lockdown perde oportunidades reais de educá-los para a vida. Pode ser mais rápido e barato ir ao supermercado sem as crianças, mas privá-la de vivenciar situações que lhes ensinarão lições importantes sairá muito mais caro depois. É preciso aproveitar cada momento para fazê-las entender seus limites e respeitar as pessoas ao redor.
De que adiante toda a conversa de criar filhos tolerantes, respeitosos, sem preconceitos e com consciência ambiental se elas mal podem sair de casa por não saberem como se comportar diante das pessoas ou em um ambiente diferente do seu? Como será o futuro dessas crianças se na fase mais importante da vida para o aprendizado elas foram limitadas ao confinamento? Lockdown e distanciamento social são medidas restritivas que em nada colaboram para o desenvolvimento das crianças, e quanto mais cedo pais e responsáveis entenderem isso, melhor será para todos.