A variante Delta é a grande preocupação da OMS (Organização Mundial da Saúde) e de pelo menos 25 países do mundo, onde a cepa já é predominante entre os infectados pela covid-19. No Brasil, o número de casos de doentes com o vírus que surgiu na Índia não para de crescer. Porém, a Gama, variante que apareceu pela primeira vez no Amazonas, continua sendo predominante no país.
De acordo com o Ministério da Saúde, a variante Delta já foi identificada em 97 pessoas, de oito estados e do Distrito Federalm, oito mortes confirmadas. O site World in Data, ligado à Universidade de Oxford, do Reino Unido, aponta que nas últimas duas semanas, 93,55% dos sequenciamentos genéticos feitos no Brasil foram da Delta.
Mesmo com números significativos, o infectologista Renato Kfouri, diretor da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), ressalta que o número de análises feitas é baixo e pode não refletir a realidade da pandemia.
“Não dá para falar em número de casos, não é para ser contado. Nós sequenciamos e testamos muito pouco, então não adianta contar os casos de infectados com a Delta. Não dá para perceber qual é a ponto do iceberg que estamos vendo. Temos que, por amostragem, saber se ela está desbancando a nossa P.1 [variante Gama, que surgiu no Amazonas]. Porque a cepa que apareceu na Índia chegou em lugares onde não tinha uma forte concorrente”, explica Kfouri.
Os pesquisadores ainda não conseguem prever se a Delta conseguirá se sobrepor à amazônica. “Eu, como virologista, e alguns dos meus colegas, nos preocupamos muito mais com a Gama que é muito transmissível; 98% dos casos novos no Brasil são Gama. Acho meio imprevisível que a Delta vai se sobrepor à Gama. Isso ninguém tem elementos para falar”, afirma o virologista José Eduardo Levi, professor do Instituto de Medicina Tropical da USP.
O infectologista Julio Croda, pesquisador da Fiocruz (Fundação Osvaldo Cruz), acrescenta: “Não tem como prever se a Delta vai se disseminar, é uma competição. A cepa chega ao Brasil, tem que ter pessoas suscetíveis. Não sabemos se pessoas que já pegaram a Gama tem alguma proteção, não tem estudo sobre isso. Não tem como prever se ela vai se tornar predominante e quando ela vai se tornar predominante”, observa ele.
A Delta é considerada mais transmissível entre as mutações que surgiram a partir do SARS-CoV-2. Cerca de 3,4 milhões novos casos de covid-19 foram identificados na semana de 12 a 18 de julho e a OMS alertou, na última quarta-feira (21), que ela deve se tornar predominante no mundo nos próximos meses.
“Nesse ritmo, o número acumulado de casos notificados (desde o início da pandemia) em todo mundo deve ultrapassar 200 milhões nas próximas três semanas. A expectativa é que Delta suplante rapidamente as outras variantes e se torne a cepa dominante em circulação nos próximos meses”, informou a Organização.
Nos países onde cepa é predominante, os novos casos de infectados atingem principalmente as pessoas que não foram vacinadas. Entre os imunizados, o vírus não tem encontrado força para se tornar grave e virar hospitalizações e mortes.
“Os números de casos têm aumentado com a Delta, porém o número de óbitos tem se mantido baixo. Então, a vacina tem conseguido combater as formas graves da doença. Pelo menos, o número de óbito não tem aumentado”, ressalta Kfouri.
Diante da experiência vivias em outros países, como Estados Unidos e Reino Unido, Croda não acredita que a nova cepa não pode se tornar um colapso no sistema de saúde brasileiro, como o gerado pela variante Gama.
“99% dos hospitalizados nos Estados Unidos pela Delta são pessoas que não receberam a vacina. O que podemos pensar que, eventualmente, com a circulação de nova variante aqui podemos ter aumento do número de casos, de hospitalizações, e óbitos, principalmente nos não vacinados. Entretanto, a maioria dos brasileiros acima dos 60 anos e com comorbidade está vacinada. Se a variante Delta se tornar predominante, pode ser que aumente hospitalização e óbitos entre os não-vacinados. Mas, o impacto no sistema de saúde com relação ao colapso deve ser menor”, salienta Croda.
A velocidade na vacinação também preocupa, independentemente da variante. “Diferentemente de outros países, onde as pessoas estão se infectando porque não querem se vacinar, no Brasil, a Delta vai pegar gente que não foi vacinada porque não deu tempo. Mas, a minha percepção é que essas pessoas estão se infectando pela Gama”, alerta Levi.
O Ministério da Saúde divulgou que no mês de agosto distribuirá 63,3 milhões de doses de imunizantes. O ritmo da vacinação em contraponto com a disputa entre as variantes e a disseminação da Delta será determinante para o caminho que a pandemia seguirá no Brasil.
“Estamos em uma curva descendente de casos, hospitalizações e óbitos. Essa curva tende cair, ainda mais, conforme se avance a vacinação. Em agosto, o Ministério da Saúde vai distribuir o maior quantitativo de vacinas até agora. Se a variante Delta não disseminar até lá, a tendência é que nós continuemos nesse panorama de queda”, conclui Croda.
*Colaboração de Fernando Mellis
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