Lar Noticias Brasileiros ganham Oscar do design com poltrona biodegradável

Brasileiros ganham Oscar do design com poltrona biodegradável

por Lud Hayashi

Dois estudantes do Paraná ganharam o Oscar do Design com uma poltrona de biofilme bacteriano, biodegradável ao couro, que ‘não fere’ animais.
O móvel que se chama ‘Não Fere” é resultado do trabalho de conclusão de curso dos estudantes Gislaine Lao e Felipe de Carvalho Ishiy, recém formados em Design de Produtos.
Os jovens da Universidade Federal do Paraná, UFPR, foram premiados pelo IF Design Talent Award 2021, que é considerado o Oscar do design mundial.

Ativismo ecológico
O reconhecimento máximo veio em junho: a poltrona foi uma dos 86 projetos, entre os 5,3 mil apresentados, consagrados pelo iF.
O trabalho foi o único representante da América Latina na competição alemã e foi considerado inteligente e inovador pelo júri internacional.
“Nosso propósito sempre foi fazer algo para os animais”, conta Ishiy, que é vegetariano, assim como a colega. “Mas os animais não precisam de mais produtos.
Então pensamos: como o design está interferindo na vida dos animais? E chegamos à indústria do couro e de peles”, completa Lao.
“A ideia foi evoluindo até percebermos que já existe carne sintética e vegetal, mas poucas opções que substituam o couro”, conclui Ishiy.
Ele destaca que mesmo os couros sintéticos ou a base de planta geralmente têm algum tipo de polímero adicionado, que poluem o meio ambiente e, por consequência, não são sustentáveis.
Ideia 
Os estudantes seguiram a área conhecida como biodesign ou design with the living – design com viventes, sob orientação da professora Elisa Strobel.
Eles iniciaram testes com a kombucha. Substituíram o chá por borra de café, para reaproveitar sobras de cafeterias que seriam descartadas, e aproveitaram também o resíduo de açúcar.
“Aí, colocamos na água, fervemos, coamos e transferimos para um recipiente.
O biofilme se desenvolve no formato do recipiente, na superfície do líquido, e tem a espessura de 1,5 centímetro”, descreve Lao.
Em seguida, eles recolhem o biofilme, lavam com detergentes para matar as bactérias e estendem em cima de um couro sintético para imprimir a textura.
Processo e preço
No total, o processo leva 3 semanas, duas para desenvolver o biofilme e uma para secar e tratar o produto. Outro diferencial é o cheiro.
“Quem trabalha com esse material relata que ele tem um cheiro avinagrado, mas o nosso tem um cheiro mais adocicado”, observa Ishiy.
Ele estima que o produto custe cerca de R$ 150 o metro, com uma tiragem máxima de 1,40m por 1,60m.
Para fazer a poltrona, foram usados quase 3 metros.
“O mais custoso é a manutenção e a obtenção dos insumos, pois precisamos de alguém para buscar, fazer a limpeza e a higienização, tudo no mesmo dia. É um valor alto, mas como é um material novo, não é tão caro”, explica.
“E gasta bem menos água. Usamos cerca de 10 litros de água por metro, enquanto o couro bovino requer de 8 a 10 mil litros.”
Fase de testes e propostas
Embora tenham recebido ofertas e propostas de empresas interessadas em desenvolver o material em larga escala, os designers explicam que o biofilme segue em fase de testes.
“É um material novo, ainda estamos aprendendo a trabalhar com ele”, justifica Ishiy. Além da poltrona, eles também fizeram uma bolsa e uma carteira.
A primeira ainda existe e, após quase dois anos, permanece com a mesma textura e o mesmo odor.
Mas a carteira não sobreviveu. Já a poltrona teve o conceito de biodegradabilidade posto à prova: a dupla aplicou fungos para verificar em quanto tempo ela se desintegraria.
Em um mês, a “Não Fere” teve sua breve — mas inesquecível — história encerrada.

Artigos relacionados

Deixe um comentário

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumiremos que você está ok com isso, mas você pode cancelar, se desejar. Aceitar Saiba Mais

Política de privacidade e cookies

Adblock detectado

Por favor, apoie-nos desativando sua extensão AdBlocker de seus navegadores para o nosso site.