No calor, moscas e mosquitos surgem agrupados e fazem questão de sobrevoar nas proximidades do rosto e dos alimentos. Táticas contra esses visitantes indesejados incluem ventiladores, plantas, limão com cravo, repelentes, inclusive conectados à tomada, e até raquetes elétricas.
Para o professor João Zequi, do Departamento de Biologia Animal e Vegetal da UEL (Universidade Estadual de Londrina), o clima do verão, marcado por chuvas e altas temperaturas, é um dos fatores que formam terreno livre para proliferação. Somado a ele, estão os recicláveis que carecem de destinação correta, sobras de alimento sem o destino adequado e os criadouros artificiais formados pelo homem, que servem de abrigo e berço para o desenvolvimento destes insetos.
Isso porque, como explica o especialista, as moscas e mosquitos encontrados no ambiente urbano ou periurbano são denominados sinantrópicos. O termo se refere àquelas espécies que aproveitam-se, sobretudo, dos resíduos deixados por atividades humanas.
“Quando temos falta de predadores naturais no ambiente urbano, alimento em abundância, criadouros diversos e acrescentamos temperatura elevada com precipitações elevadas, temos as boas condições para proliferação de moscas e mosquitos no ambiente urbano”, diz Zequi.
Mas há maneiras de dispersar as espécies sem agredir o meio-ambiente. Anote as dicas:
Um checklist é bem-vindo
Para a vistoria abranger todos os locais da casa sujeitos à criação de Aedes aergypti, é recomendável que se siga um checklist preconizado por órgão oficial. Todos os moradores do bairro devem aderir à prevenção, não deixando de conferir qualquer espaço que possa conter larvas.
Se possível, evite o tratamento químico
A população tem livre acesso aos inseticidas à base de piretróides. O professor argumenta que o uso excessivo deles pode prejudicar a saúde humana e dos pets, além de selecionar insetos resistentes que não perdem a vida com a exposição ao produto.
Este tratamento articial pode resolver o problema momentaneamente, mas o ideal é diagnosticar a fonte da infestação e aplicar os procedimentos de eliminação ou remediação. Nestes casos, quando o morador não consegue remover os criadouros e conter a proliferação de larvas por meios mecanicos, como telas e vedações, deve-se acionar o órgao público ou assistência técnica. A mesma indicação é válida para locais abandonados, não só às residências.
Cuidado com a falsa sensação de segurança
Tutoriais em sites prometem artimanhas efetivas contra os insetos, que são adotadas por crentes de que o problema irá se extinguir ou ao menos ser reduzido.
O cravo espetado no limão é comum. Zequi alerta que o cravinho da índia conta com Eugenol, substância capaz de repelir o mosquito e matar suas larvas, mas apenas quando em concentração adequada, que não é oferecida pelo cravo in natura.
A raquete elétrica, vendida em comércios Brasil afora, oferece um desafio para quem tentar atingir algumas espécies com ela, conforme o especialista chama a atenção: “Matar um Aedes aegypti com uma raquete elétrica pode ser desafiador, pois o mosquito é ágil, suas cores pretas e brancas se confundem rapidamente durante o voo com o ambiente e a gente logo o perde de vista”.
Essas soluções caseiras não podem ser tidas como pretexto para deixar de lado a responsabilidade. O professor defende que a população vistorie com qualidade seu espaço e denuncie a eventual negligência de terceiros aos órgãos públicos locais.
Limpeza preventiva
A limpeza tem função preventiva neste tema. O acadêmico ouvido pela reportagem diz que a sujeira e a desorganização dos resíduos recicláveis ou orgânicos estão diretamente relacionadas ao aumento de moscas e mosquitos.
Calhas entupidas, bueiros e outros compartimentos que possam acumular água por falta de manutenção são grandes responsáveis pela proliferação destas populações.
Espécies
O professor lista os tipos de moscas e mosquitos mais recorrentes na temporada de primavera/verão. Vilão das campanhas antidengue, o famoso Aedes aegypti está ligado ao ser humano e suas habitações. Sua maior circulação também eleva a taxa de doentes por dengue, chikungunya e Zika vírus.
Semelhante a ele, o Aedes albopictus habita matas, fundos de vale e moradias. Pequenos recipientes com água parada são, para estas espécies, um confortável depósito de ovos.
Diferente dos anteriores, que são entusiastas do período diurno, o pernilongo é mais ativo pela noite. Daí o motivo de muitas pessoas queixarem-se das picadas levadas enquanto dormem.
As moscas, por sua vez, saem em busca de matérias orgânicas já em decomposição, como lixo, estercos e cadáveres de animais.
Zequi acrescenta que a disponibilidade de alimento e locais para o armazenamento de ovos interferem na dinâmica populacional. As grandes fontes de recursos para estes insetos são os lixões, unidades de triagem e compostagem mal operadas, latrinas, fossas abertas e animais com estercos sólidos ou líquidos.