Paulistanos têm recorrido à realidade virtual a fim de tratar fobias, que são o medo irracional extremo de situações, objetos, animais ou atividades.
A revisão, publicada em maio deste ano na revista científica Disability and Rehabilitation, concluiu que as técnicas analisadas em 18 pesquisas foram eficazes contra fobias como as que envolvem injeção, medo de animais e as chamadas fobias naturais, que incluem temor de água, tempestade e escuro, por exemplo.
Antes da pandemia de Covid, Nascimento viajou de ônibus para o Rio de Janeiro junto com o companheiro. Um dos passeios que o casal pretendia fazer era subir de bondinho até o Morro da Urca e depois ir ao Pão de Açúcar. O problema é que o professor tinha fobia de altura e passou mal.
Utilizando um programa de computador ligado a óculos de realidade virtual, a terapeuta transmite imagens que simulam as situações para o paciente e faz intervenções. Os óculos mais baratos custam cerca de R$ 90.
O paciente conta que perdeu chegou a perder uma promoção no trabalho por causa da fobia. “Eu precisaria fazer viagens de avião, então recusei”, diz ele, que sentia sintomas da ansiedade comuns à condição, como náusea, tremores, calafrios, suor em excesso, dor de cabeça, tontura, vertigem, tensão muscular, aumento da frequência dos batimentos cardíacos, boca seca e até dificuldade para respirar.
Carolina da Luz, 26, tinha muita dificuldade de falar e estar em público. A ansiedade a atrapalhou na escola e também na faculdade. A jovem, que mora em São Paulo, conta que teve um ataque de pânico prestes a entrar no micro-ônibus que leva e traz os alunos de uma universidade do interior do estado porque estaria rodeada de pessoas desconhecidas durante todo o trajeto. Os pais acabaram a levaram para a aula, mas na volta precisou encarar o coletivo.
“Eu voltei com muita dor na barriga. O mal-estar passou no momento em que cheguei em casa”, diz.
Luz foi diagnosticada com fobia social por Cristiane Maluhy Gebara, psicóloga e professora do Ambulatório de Ansiedade do Hospital das Clínicas da USP (Universidade de São Paulo).
O aplicativo SocialUP3D simula situações comuns, como pedir informações a alguém na rua. São momentos que causam sofrimento em pessoas com fobias sociais. Para a sessão, é necessário um smartphone e um Cardboard -óculos desenvolvidos pelo Google.
O Cardboard pode ser comprado por cerca de R$ 40 na internet, e o aplicativo está disponível para aparelhos Android gratuitamente.
Após dois meses de tratamento, em 2019, Luz recebeu alta. Ela terminou a faculdade de psicologia e, desde janeiro deste ano, oferece aos seus pacientes o mesmo tratamento que aliviou a fobia social.
Tanto Gebara quanto Haddad atendem presencialmente e a distância. Segundo as profissionais, a possibilidade de interagir com qualquer pessoa em qualquer lugar torna o tratamento mais acessível, em especial para pessoas que teriam dificuldade de ir ao consultório devido à fobia.