Foram os pelos molhados e as marcas de patas pelo piso do apartamento que levaram a publicitária Lara Lorga e o engenheiro mecânico Fábio de Carvalho, na época residentes em Niterói (RJ), a pensar em uma solução para o xixi de suas goldens retrievers Pepa e Lili.
Sem opções de sanitários práticos no mercado, decidiram recorrer ao “faça você mesmo” e criaram, em julho de 2015, uma bandeja de madeira revestida em lona plástica e com inclinação para que o líquido caísse diretamente no ralo. Nascia, assim, o protótipo do sanitário inteligente para cães Weasy, o produto carro-chefe da empresa que faturou R$ 7,5 milhões em 2020.
Quando o casal se mudou para a capital paulista, em janeiro de 2016, o sanitário ganhou uma nova versão: a madeira deu lugar a uma chapa de alumínio, ganhou pés de Durepoxi e uma mangueira que direcionava o xixi ao interior do ralo. Em outubro do mesmo ano, durante a licença-maternidade de Lara, e após testar a nova versão entre alguns amigos, o casal decidiu apostar em outro modelo comercial do produto.
“Nossos amigos empreendedores falavam que precisávamos patentear essa ideia e comercializar. A gente nem lembrava que os cães faziam xixi em casa e queríamos proporcionar essa praticidade a outras pessoas. Foi quando, incentivados pelo meu pai, desenvolvemos o modelo em fibra de vidro. Ele tinha familiaridade com o material por usar em aeromodelismo”, conta Lara.
A inovação viralizou na internet quando o casal decidiu gravar um vídeo de suas cachorras usando o sanitário e postaram o conteúdo em uma rede social. A gravação alcançou mais de 3 milhões de visualizações e os empresários chegaram a receber contatos de 21 países.
“A demanda aumentou consideravelmente, mas nossa capacidade produtiva era baixa. Investimos apenas R$ 5 mil para criar dois moldes e 20 sanitários em uma fábrica terceirizada. A empresa conseguia fazer no máximo dez peças por semana. Quando nos demos conta, já tínhamos vendido 60 sanitários e isso significava um prazo de dois meses para a postagem”, relembra a empresária.
Para dar conta de atender a todos os pedidos, eles compraram uma pequena fábrica de fibra de vidro na cidade de São José do Rio Preto, no interior de São Paulo.
“Compramos os materiais, contratamos dois funcionários do antigo proprietário, alugamos um galpão e passamos a produzir em maior escala, cerca de 200 por mês”, comenta Fábio. “Como morávamos em São Paulo, meus pais, que moravam em São José do Rio Preto, embalavam as peças e postavam nos Correios”, completa.
O produto começou a fazer mais sucesso ainda quando faltavam apenas 15 dias para o término da licença-maternidade de Lara, em abril de 2017. Então, ela decidiu largar o emprego em uma multinacional e passou a se dedicar integralmente ao seu próprio empreendimento
“Eu cuidava da casa, do nosso filho Bento, orientava os clientes sobre o uso, fazia treinamentos, alimentava as redes sociais e organizava os pedidos. O Fábio chegava do trabalho à noite e juntos organizávamos a compra de matéria-prima e o envio dos pedidos para meus sogros”, conta Lara. Em setembro do mesmo ano, eles se mudaram para São José do Rio Preto.
Nessa mesma época, foi a vez de Fábio decidir abandonar seu antigo emprego para se dedicar ao seu próprio negócio.
Um dos modelos tem mangueira para rosquear na torneira
REPRODUÇÃO/YOUTUBE
Dois meses depois, veio, novamente, a mudança de matéria-prima e o desenvolvimento de novos moldes: a empresa passou a produzir sanitários em polímero reciclado. “Adicionamos vários acessórios, então a margem de lucro era a mesma, mas conseguíamos entregar um produto com melhor acabamento, bem mais comercial”, conta Lara.
O sanitário mais moderno e sustentável está disponível em dois modelos. O primeiro tem apenas uma mangueira para escoamento do xixi – nesse caso, basta jogar dois copos de água para limpar o xixi. O segundo tem duas mangeiras, uma para escoamento e outra para ser rosqueada em uma torneira, então, basta abri-la para que a água desça e carregue o xixi para o ralo.
Se o pet fizer cocô, basta recolher com uma pá e jogar na privada. O tapete do sanitário é modular, portanto permite fazer a limpeza facilmente.
Hoje as vendas da empresa são 95% feitas por marketplaces e plataforma própria, e nos planos estão investimentos em pontos de venda físicos. “Nosso desafio é um ponto de venda que possa mostrar o funcionamento do produto, para que o cliente possa ver como ele age de maneira eficiente e leva o xixi do cão e do gato direto para o ralo. Não existe outro produto no mercado que o dono não precise de uma limpeza ostensiva e diária para diminuir o odor”, destaca Lara.
Além do sanitário Weasy para cães nos modelos macho e fêmea e do sanitário para gatos, criado em 2018, a empresa também conta com outros produtos sustentáveis, como um saquinho feito de milho e mandioca para o descarte higiênco das fezes de animais. Ele se desfaz em 6 messes e pode ser compostado. “Nosso DNA é criar produtos ecológicos com o menor índice de resíduos possíveis”, afirma Fábio.
Em quatro anos desde sua criação, a empresa não parou de prosperar. Atualmente, a fábrica está localizada em Bady Bassitt, cidade a 5km de São José Rio Preto, conta com 18 colaboradores e produz três mil sanitários ao mês
A pandemia e a necessidade do isolamento social levaram a um aumento de 34% no faturamento. “É um momento triste que aproximou ainda mais os donos da rotina de seus pets. Em casa o dia inteiro, as pessoas passaram a se incomodar ainda mais com o cheiro de xixi. Foi quando perceberam o quanto um sanitário inteligente poderia facilitar o dia a dia e o relacionamento de quem tem animais de estimação”, analisa Lara.