O fim do ano costuma ser uma época de balanços individuais das nossas vidas e planejamento para o futuro. Mas também é o momento de confraternizações e descanso.
Tudo isso pode gerar algum tipo de pressão, a ponto de se tornar estresse e ansiedade em algumas pessoas.
Neste contexto, alguns gatilhos exigem atenção especial, pois podem desencadear momentos de mais ansiedade.
Com a retomada da vida normal em todo o país, voltaram também os tradicionais encontros de amigos e colegas de trabalho, além das reuniões de família e viagens.
São ocasiões em que o exagero nas bebidas alcoólicas pode ser negativo para quem já está predisposto a quadros ansiosos, explica o psiquiatra Rafael Maksud, da clínica Ame.C, em São Paulo.
“A bebida alcoólica reduz o nível de serotonina, que é um dos principais neurotransmissores responsáveis pela sensação de bem-estar, de prazer que a gente sente. O álcool vai acabar muitas vezes agravando algum aspecto de ansiedade, depressivo, ou iniciando algum quadro para quem não tem uma comorbidade prévia ligada a estes diagnósticos.”
Ele ressalta que indivíduos em tratamento com remédios para ansiedade ou depressão devem evitar ao máximo bebidas alcoólicas.
Já quem não tem diagnóstico, mas se sente aumento do estresse e da ansiedade, também deve considerar os riscos do álcool para o agravamento destes quadros.
O transtorno de ansiedade apresenta sintomas físicos, como taquicardia (batimentos do coração acelerados), palpitações, suor, tontura, falta de ar, entre outros.
É fundamental buscar ajuda médica quando se percebe que a ansiedade está dificultando a realização de atividades diárias.
Alimentar-se é uma necessidade biológica, mas comer os alimentos errados pode ter efeitos nocivos também na saúde mental.
Nesta época do ano, muita gente se permite exagerar. Todavia, somar momentos de tensão emocional com chocolate, bolos e outros carboidratos não é uma boa ideia.
Indivíduos em estado ansioso costumam buscar um equilíbrio dos neurotransmissores por meio da comida. Alimentos ricos em carboidratos nos dão uma espécie de injeção de serotonina, mas de curta duração e que pode levar a um círculo vicioso.
“A pessoa vai ficando cada vez mais ansiosa, busca cada vez mais o prazer imediato [por meio da comida]. Essa liberação de serotonina faz com que a ansiedade diminua momentaneamente, mas pode gerar um efeito cascata, um círculo vicioso, levando até a uma compulsão alimentar”, enfatiza Maksud.
Outro círculo vicioso existe na relação entre falta de sono e ansiedade. Isto porque noites maldormidas afetam negativamente um complexo sistema cerebral.
Uma pesquisa de 2015, da Universidade de Tel Aviv, em Israel, mostrou que as amígdalas cerebelosas, área cerebral que, entre outras funções, é o centro identificador do perigo, é ativada em excesso quando existe falta de sono.
“Sem dormir, o mero reconhecimento do que é um evento emocional e do que é um evento neutro é interrompido. Podemos experimentar provocações emocionais semelhantes em todos os eventos que chegam, mesmo neutros, e perder nossa capacidade de classificar informações mais ou menos importantes. Isso pode levar ao processamento cognitivo tendencioso e a um julgamento ruim, bem como à ansiedade”, observaram os pesquisadores.
Com a alteração na amígdala, os hormônios que servem para os momentos de possíveis ameaças são liberados sem necessidade, fazendo com que a pessoa sinta efeitos físicos típicos da ansiedade, como coração acelerado, sensação de falta de ar, suor nas mãos, boca seca, desconforto abdominal, calafrios e náuseas.
O resultado disso é que indivíduos com dificuldade para dormir costumam ter mais irritabilidade, dificuldade de concentração, tornam-se esquecidos, causam acidentes, entre outras complicações.
O psiquiatra ressalta que é imprescindível fazer a “higienização do sono”, que inclui ter hora para dormir e acordar, e principalmente deixar de lado o celular algum tempo antes de se deitar.
Além disso, não se deve fazer refeições pesadas em horários próximos de dormir, também não consumir bebidas com cafeína (café, chás e refrigerantes) e nem praticar exercícios físicos.
A análise – ainda que superficial – do que fizemos neste ano e o que pretendemos para os próximos 12 meses acaba sendo inevitável para a maioria das pessoas.
Mas tem aqueles que apresentam quadros ansiosos nesta época do ano justamente por não terem planos para o futuro, conta Rafael Maksud.
“Algumas pessoas, principalmente aquelas que já conquistaram tudo aquilo que tinham em mente, acabam vivendo em função de valores conquistados e não conseguem mais fazer novos planos ou se reinventar. Até pelo aspecto de se dar ao direito de usufruir das conquistas se acomodam, no bom sentido da palavra.”
Ele acrescenta que o autoconhecimento é fundamental para que tenhamos uma noção clara do que desejamos para o futuro.
“Saber quem você é e o que você quer vai te tornar mais racional e assertivo nas escolhas.”
Outro gatilho de ansiedade é justamente o medo de sair da zona de conforto, segundo o psiquiatra.
“O ansioso não lida bem inicialmente com as mudanças.”
Ele sugere que sempre tenhamos planos para as eventuais adversidades que possam surgir. Por exemplo, pensar nas possibilidades em caso de perder o emprego.
“A gente tem que ter isso estruturado em relação a todo tipo de imprevisto. Todos nós estamos propensos a isso. Quanto mais estivermos preparados, emocionalmente falando, para saber lidar com isso, melhor a chance de conseguirmos visualizar o imprevisto e enxergar lá na frente. A insegurança e esses medos não vão ser tão elevados a ponto de prejudicar tanto e deixar a pessoa travada.”
Pode acontecer de todos esses gatilhos citados a cima se interligarem em algum momento, independentemente da época do ano, pondera o psiquiatra.
Ele ressalta a necessidade de uma “rotina do bem”, que inclui hábitos saudáveis — rotina de trabalho, obrigações, lazer, exercícios físicos, dieta equilibrada.