Um recente estudo que aponta uma taxa de eficácia da CoronaVac em idosos inferior a 50% deixou muita gente em dúvida se está realmente protegida da covid-19. Mas o Instituto Butantan, produtor do imunizante no Brasil, e o diretor da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), Renato Kfouri, avaliam que não é o momento de cogitar uma terceira dose para este grupo.
Um dos motivos é que o estudo, ainda sem revisão de pares, considerou apenas a eficácia global da vacina, que é sua capacidade de evitar sintomas da covid-19, mas não levou em conta a prevenção de casos graves, hospitalizações e mortes.
Em entrevista coletiva à imprensa nesta semana, o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, rechaçou a possibilidade de revacinação dos idosos por enquanto.
“Recentemente, têm aparecido aí notícias baseadas em estudos de qualidade secundária, vamos dizer assim, falando: ‘olha, precisa revacinar os idosos’. Não, os dados que nós temos não indicam isso. […] Fiquem tranquilos, essa é uma das melhores vacinas que estão disponíveis no mundo e que agora tem efetivamente demonstrado o seu papel na vacinação sobre a epidemia.”
O Butantan já havia se manifestado anteriormente ao dizer que a vacina “não é barreira para a infecção pelo vírus SARS-Cov-2, mas reduz expressivamente o risco de uma pessoa ter a doença causada pelo vírus, evitando, sobretudo, quadros graves, hospitalizações e mortes”.
É o que pensa Kfouri. Na avaliação dele, não há qualquer indicativo de fracasso da CoronaVac desde que ela começou a ser aplicada no Brasil.
Pelo contrário, um estudo da UFPel (Universidade Federal de Pelotas) apontou que a vacinação evitou cerca de 14 mil mortes de idosos acima de 80 anos no Brasil, grupo que foi majoritariamente vacinado com a CoronaVac.
“Nenhuma surpresa, a vacina foi 50% eficaz dentro do estudo, que envolveu 5% só de idosos. É natural que com mais idosos a tendência seja baixar — e ficou em torno de 42%, bem dentro do que se esperava para qualquer forma de doença. A gente vai ver mortes em indivíduos vacinados com qualquer vacina. Nenhuma vacina dá 100% mesmo. Uma vacina que talvez tenha 95% de prevenção de mortes, 5% ainda vão morrer. Se você tem 2 mil mortos por dia hoje, quando estivesse todo mundo vacinado ainda teria 100 mortes por dia, por exemplo.”
O diretor da SBIm acrescenta que estudos de mundo real — diferentes dos ensaios clínicos — no Chile e no Uruguai, onde a CoronaVac é usada nos programas de vacinação, mostraram excelentes resultados na prevenção da mortalidade de idosos.
No Chile, a vacina se mostrou 67% eficaz na prevenção de casos leves da doença, em um estudo feito pelo Ministério da Saúde com 10 milhões de pessoas entre fevereiro e abril.
Em um levantamento ainda não estratificado por faixa etária, o governo uruguaio concluiu que a a CoronaVac reduziu as hospitalizações em 95% dos casos de covid-19. A pesquisa levou em conta 712,6 mil indivíduos que receberam as duas doses do imunizante havia mais de 14 dias.
Para Kfouri, o debate sobre a dose de reforço deve se dar em dois cenários: se houver variantes do coronavírus que escapem de maneira significativa da imunidade conferida pelas vacinas ou quando a proteção, eventualmente, acabar.
“Por enquanto, a gente tem indivíduos vacinados há muito pouco tempo. Tem pouca gente no planeta com duas doses há mais de seis meses, não dá para fazer uma análise [da duração da imunidade].”
Mas a possibilidade de que haja um calendário anual de vacinação contra a covid-19, a exemplo do que ocorre com a gripe, é real. Atualizações das vacinas já estão sendo estudadas por alguns laboratórios, justamente pelo risco de emergência de novas variantes.
O que não pode ser feito, segundo Kfouri, é priorizar possíveis doses de reforço enquanto há pessoas que não foram vacinadas.
“Não faz sentido usar terceira dose em alguém, que certamente terá algum benefício, enquanto tem pessoas que ainda não receberam nem a primeira dose.”
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