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Futuro da imunização contra a Covid no Brasil depende agora de vacinas atualizadas

Especialistas dizem que reforço com imunizantes atuais não garante benefícios; país precisa incorporar fórmula adaptada contra variantes

por Lud Hayashi

Graças à vacinação em massa desde o início de 2021, a Covid-19 estava praticamente esquecida pela maioria da população nos últimos meses, mas agora começa a dar sinais de um aumento significativo de novos casos.

Historicamente, os primeiros sinais do crescimento das infecções no país começam pela rede privada.

A doença continuará a ser uma preocupação de saúde pública no Brasil nos próximos meses, e as estratégias para enfrentar essa doença, que matou em média 187 pessoas por dia em 2022, precisarão ser revistas, na avaliação de especialistas.

A principal delas diz respeito à vacinação, já que a obrigatoriedade do uso de máscaras, por exemplo, não existe mais.

“A tendência hoje é que se inclua a variante Ômicron na formulação das vacinas. As bivalentes parecem ser um caminho natural para que a gente faça as doses de reforço já no ano que vem. Mesmo que a vacina [atual] proteja de formas graves [da doença], também é importante que proteja de formas leves, de visitas aos serviços de saúde, faltas ao trabalho. Melhorar a vacina no sentido de voltar a proteger de formas leves é desejado.”

Já circula no Brasil a subvariante da Ômicron BQ.1.1, que tem provocado um aumento de infecções no Hemisfério Norte.

No Rio de Janeiro, a Secretaria Municipal de Saúde está pedindo aos moradores que ainda não tomaram o último reforço que procurem os postos de saúde. Existe a suspeita de que o avanço da subvariante da Ômicron, associado à queda da imunidade, esteja relacionado ao aumento de casos.

O vice-presidente da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia), Alexandre Naime Barbosa, que chefia o Departamento de Infectologia da Unesp (Universidade Estadual Paulista) em Botucatu, acrescenta que “as pessoas completamente vacinadas, com três ou quatro doses, não se beneficiam de mais doses” dos imunizantes usados até agora.

Isso porque o coronavírus Sars-CoV-2 utilizado na formulação das vacinas de primeira geração é a cepa descoberta em Wuhan, na China, no fim de 2019. De lá para cá, o vírus sofreu uma série de mutações genéticas significativas, chegando à Ômicron e suas subvariantes.

Pfizer e Moderna desenvolveram nos últimos meses vacinas bivalentes, que mantêm a proteção contra a cepa de Wuhan, mas também induzem imunidade contra a Ômicron. São essas que devem, na avaliação dos especialistas, ser disponibilizadas no SUS.

Barbosa chama atenção para o fato de muitas pessoas dos grupos terem recebido o segundo reforço no começo do ano e, portanto, já tiveram uma perda da imunidade.

É o caso de idosos, indivíduos com doenças crônicas (diabetes, hipertensão e obesidade, principalmente) ou imunossuprimidos (transplantados de órgãos sólidos, pessoas em tratamento quimioterápico e portadores de doenças autoimunes).

Para se ter ideia, 67% dos 55.136 mortos por Covid-19 entre 1º de janeiro e 29 de outubro tinham mais de 70 anos, segundo o boletim epidemiológico mais recente do Ministério da Saúde. Em números, 36.824 pessoas com mais de 70 anos perderam a vida para a Covid.

“Eles têm a duração da imunidade menor, porque não respondem igual [aos imunizantes], não têm a mesma capacidade de fabricação de anticorpos, em ativação de resposta imune celular. A intensidade é menor e a duração é menor”, explica o infectologista da SBI.

Em São Paulo, a primeira morte de uma pessoa com Covid-19 causada pela BQ.1.1 foi justamente de uma idosa de 72 anos que vivia acamada.

“Era uma paciente que já tinha comorbidades. Não temos o detalhamento neste momento da condição vacinal, mas a vigilância epidemiológica está analisando as informações”, declarou na terça-feira (8) o secretário de Estado da Saúde de São Paulo, Jean Gorinchteyn.

Tramita desde agosto na Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) um pedido da Pfizer para registro da vacina bivalente. Não há previsão de quando o processo será concluído.

O imunizante já foi liberado para ser usado como reforço nos Estados Unidos, União Europeia, Japão, Chile, Israel, Costa Rica e Honduras.

Em nota enviada, a Pfizer diz que espera que a duração da imunidade conferida pelo novo imunizante “seja maior do que as vacinas originais”.

Com oferta limitada, já que o imunizante da Moderna não está no radar para uso no Brasil até o momento, espera-se que o da Pfizer seja destinado inicialmente aos grupos mais vulneráveis, com maior risco de complicações causadas pela Covid-19.

“A ideia é que a vacina bivalente, quando aprovada no Brasil, seja aplicada nesses grupos que são mais vulneráveis. E também um segundo grupo seriam as pessoas mais expostas, como profissionais de saúde”, complementa Barbosa, ao dizer que isso deveria ser feito “o quanto antes”.

Outra grande fornecedora de vacinas anti-Covid para o Ministério da Saúde é a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), que firmou um acordo de transferência tecnológica com a farmacêutica AstraZeneca para a produção nacional do imunizante desenvolvido pela Universidade de Oxford. Não há, entretanto, planos para atualização dessa fórmula.

“Essa é uma cobrança que o Ministério da Saúde deve fazer à Fiocruz e à AstraZeneca, de atualizar a vacina. Até onde eu vi posicionamentos da AstraZeneca não havia avanços nesse sentido. Eles continuam achando que proteger contra formas graves da doença é suficiente, o que não é a opinião da maioria dos especialistas. A maioria entende que contemplar a Ômicron na vacinação traria benefícios”, avalia Kfouri.

Em nota, a pasta disse que “acompanha com atenção os estudos e inovações tecnológicas nos tratamentos relacionados à Covid-19” e informou que o contrato atual com fornecedores já “contempla a entrega de vacinas com cepas atualizadas, desde que aprovadas pela Anvisa”.

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