Mais de 30 milhões de brasileiros tiveram Covid-19 nesses últimos dois anos. Embora a medicina ainda esteja descobrindo efeitos deixados no organismo pela doença, uma condição que já começou a surgir é a denominada Síndrome Pós-Covid ou Long Covid.
A médica infectologista do Hospital São Vicente Curitiba, Thatiane Nakadomari, explica que, quando os sintomas presentes na Covid-19 persistem por mais de três meses após o fim da infecção, ou até quando surgem novos problemas de saúde, pode ser indício da Síndrome Pós-Covid. “Após ter Covid-19, o paciente se recupera aos poucos, sempre depende da intensidade dos sintomas que teve, mas ele deve ir, aos poucos, melhorando. Se passou de 30 dias e não houve melhora, é necessário procurar um auxílio médico”, afirma.
Dificuldade em perceber cheiros ou odores, fadiga, tosse seca, redução ou distorção do paladar, dor de cabeça, tontura e lentificação do raciocínio estão entre as disfunções mais comuns na Síndrome Pós-Covid, além de problemas gastrointestinais, como diarreia ou constipação, perda de memória transitória e transtorno do estresse pós-traumático – esse último costuma afetar pacientes que precisaram ficar internados em UTI. “O que temos notado muito entre queixas dos pacientes em consultório, principalmente depois da segunda onda, é um cansaço excessivo, persistência dos sintomas respiratórios e fatores mais neurológicos – depressão, ansiedade, sonolência e esquecimento”, revela Thatiane Nakadomari.
Esses sintomas podem ocorrer em qualquer pessoa que teve Covid-19, inclusive uma infecção leve. Já entre os pacientes que desenvolveram uma infecção grave, também estão sendo relatadas algumas outras complicações, incluindo até doenças cardiovasculares. “Alguns pacientes estão desenvolvendo insuficiência cardíaca e miocardite. Mas, qualquer infecção viral pode provocar isso, então, ainda não sabemos ao certo qual a relação com a Covid-19”, diz a médica infectologista.
Estudos em andamento
Não existem ainda estatísticas das ocorrências da Síndrome Pós-Covid entre os pacientes. Segundo Thatiane Nakadomari, o NIH (National Institutes of Health), um dos principais conglomerados de centros de pesquisa dos Estados Unidos, começou a fazer um levantamento sobre a incidência desse problema.
“Alguns artigos científicos ainda apontam que esses sintomas podem ser simplesmente provocados por estresse. No caso do paciente que teve Covid leve, isso ocorreria pelo medo que ele tinha de evoluir para um problema grave e daqueles que chegaram a ficar na UTI, devido a já conhecida Síndrome do Paciente Crítico, que causa vários sintomas. Ainda não se sabe os efeitos da Covid-19 a longo prazo, é algo que estamos começando a verificar agora”, analisa.
Mas, a médica esclarece que, independentemente do caso, sempre é fundamental procurar um auxílio médico quando há piora ou surgimento de novos sintomas após a Covid-19. “Já saíram alguns artigos sobre tratamento e recuperação de olfato junto à recuperação de paladar. Já temos manuais de reabilitação para fadiga, existe tratamento para depressão, reabilitação com fisioterapia respiratória e motora, entre outros. Os tratamentos são feitos conforme os sintomas e se o paciente adere e segue todos os cuidados, tende a se recuperar muito bem”, salienta a médica infectologista do Hospital São Vicente Curitiba.