“Sou outra pessoa agora e todo mundo tem percebido isso. Meu dia a dia mudou em tudo. Eu me esquecia de coisas básicas, saía de casa para ir a um lugar e parava em outro totalmente diferente. Agora não, eu vou e volto, durmo bem, acordo mais disposto e faço meu chimarrão”.
A mudança na rotina que o agricultor Delci Ruver, 78, vem experimentando nos últimos anos é como um recomeço de vida para ele e para a esposa Maria Ruth Gayer Ruver, 77. Eles moram em uma área rural de Planalto, no Sudoeste do Paraná, e relatam o quanto Ruver foi demandando uma atenção especial após o diagnóstico da doença de Alzheimer.
Com essa retomada da qualidade de vida, a história de Ruver se tornou conhecida recentemente pelo fato de ele ter participado de um estudo pioneiro no Brasil sobre o uso de óleo da cannabis em pessoas com Alzheimer.
Para ter acesso aos extratos da cannabis, os pesquisadores contam com a Abrace (Associação Brasileira de Apoio Cannabis Esperança), organização sem fins lucrativos, conhecida como a primeira instituição do Brasil autorizada pela Justiça a cultivar a maconha para fins medicinais.
HUMOR E MEMÓRIA
Ela é neta de Ruver e iniciou os estudos com canabinoides (compostos derivados da cannabis) em pacientes com doença de Parkinson. “Mas diante da progressão rápida da doença no meu avô, me juntei a outros pesquisadores e ao neurologista Elton Gomes da Silva para montar um protocolo de pesquisa com o objetivo de avaliar os efeitos do tratamento para pessoas com Alzheimer”, comenta.
Os estudos começaram no final de 2017, quando Ruver já apresentava o grau moderado de Alzheimer. Ele passou a fazer uso diário de 500 microgramas de extrato da cannabis, preparada com uma maior concentração de THC. Hoje, ele segue utilizando as gotas do composto todos os dias antes de dormir.
“O THC é muito conhecido pelos efeitos psicoativos, porém é uma substância que tem valor terapêutico para várias doenças; já o CBD é o composto mais conhecido dentro da área farmacêutica, principalmente pelo efeito antiepilético e também antidepressivos. Quando combinadas essas substâncias, observamos que têm efeitos neuroprotetores”, afirma a farmacêutica.